A PRÁTICA DE CURA PELA FÉ: AS BENZEDEIRAS, TÊM JÁ SEU OFÍCIO LEGALIZADO,ESTÃO VOLTANDO NA GRANDE BELO HORIZONTE,MINAS GERAIS E NO BRASIL

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As benzedeiras estão voltando


A Escola de Benzedeiras chega a fazer 130 atendimentos

Nunca se precisou tanto delas, que haviam sumido em meio ao avanço da tecnologia, e agora centros de formação surgem pelo país


PUBLICADO EM 29/04/18 - 03h00


A benzedeira, detentora de um saber ancestral capaz de curar praticamente tudo, está presente na memória de muitos brasileiros. E essa tradição, que parecia estar sendo extinta junto com o conhecimento de muitas avós que já não estão mais presentes, tem sido resgatada por vários grupos distribuídos pelo Brasil. Nessa tentativa de recuperar tal saber, o benzimento vem também se modernizando e atraindo mais pessoas.

A lembrança da avó, benzedeira já falecida, levou a assistente social Maria Bezerra a querer recuperar esse conhecimento. “Um dia, a memória dela me veio muito forte, e comecei a perceber que precisava continuar o que ela deixou no caminho”, conta. Assim nasceu a Escola de Benzedeiras de Brasília, um movimento que surgiu há dois anos e agora ganha proporções nacionais. 

“A gente tem uma rede de benzedeiras nacional, que tem se movimentado na direção de valorizar essas pessoas e não deixar esse poderoso conhecimento ancestral morrer, se extinguir diante de tecnologias que comprovadamente não dão conta da nossa saúde e bem-estar”, afirma.

Segundo Maria Bezerra, a benzeção foi sendo deixada de lado por causa da interferência de outras religiões, por medo de um saber médico- científico que condena esse tipo de prática ou até mesmo pela desvalorização dos familiares. No entanto, com a escola, a procura tem crescido. Em uma sexta-feira de atividades, por exemplo, elas chegam a fazer mais de 130 atendimentos. A entidade também atende a distância.

“As pessoas esqueceram o poder da fé. Em um mundo tão tecnológico, onde todas as respostas podem estar na ponta dos dedos, se esquecem do coração. E a fé é um ato de coração, de amor. No entanto, acredito que, pela quantidade de pessoas que têm nos buscado, todas com suas memórias afetivas da benzedeira, estamos retomando essa fé”, acredita.

No Paraná, outro movimento se destaca. Segundo o educador popular Antônio Michel Kuller, o Movimento de Aprendizes da Sabedoria (Masa) começou esse resgate há dez anos. Estão sendo feitos mapeamentos sociais em três cidades: Rebouças, São João do Triunfo e Irati, com 134, 167 e 187 benzedeiras, respectivamente.

“A partir do mapeamento, elas conseguiriam aprovar uma lei municipal (em Rebouças e São João do Triunfo) de reconhecimento das benzedeiras como agentes de saúde das comunidades locais, dando direito a elas de ter carteirinha e certificado, além de participação em conselhos estaduais”, diz o educador.

Essas mesmas benzedeiras devem lançar em breve alguns produtos, como florais e pomadas. O trabalho está sendo desenvolvido sob supervisão da engenheira agrônoma e terapeuta floral Andrea Mayer. “Elas fizeram o curso de florais, e estamos criando juntas, com plantas medicinais que elas utilizam para benzimentos, chás e banhos. Deve ficar pronto no final de maio”, conta.

O saber popular mostra que não há doença que não se benza. As benzedeiras costumam ter “remédio” para espinhela caída (dor na boca do estômago, nas costas e pernas), carne quebrada (dor muscular), cobreiro (herpes), quebranto (mau-olhado), encosto e vários tipos de males, do corpo ou da alma.

Mesmo após o falecimento da mãe – Dona Filinha, benzedeira famosa em Belo Horizonte –, o cantor e compositor Sérgio Pererê se mantém próximo das benzedeiras, por meio de um grupo no Facebook com mais de 9.000 participantes. “Na busca por uma pseudo-evolução, nos desvinculamos do que é mais puro. É como se tivéssemos ficado órfãos. Saímos correndo buscando evolução e, no meio do caminho, olhamos para trás e nos sentimos sozinhos. Acho interessante que, em um mundo onde estamos falando de coisas tão duras, esse mecanismo da internet seja usado para falar de algo ligado a natureza e espiritualidade”, diz.

Atendimento por vídeo ou pedidos por e-mail

Antigamente, as benzedeiras eram referência nas comunidades quando o assunto era saúde. Hoje, suas orações trazidas do passado, com um teor simples, mas de grande força, além de ervas, chás e remédios caseiros, resistem nos grandes centros e desafiam os conceitos da ciência, por meio de atendimentos realizados com ferramentas online, como videoconferências e e-mails.

A assistente social Maria Bezerra, da Escola de Benzedeiras de Brasília, diz que é possível benzer a distância, por Skype, apenas com o nome completo da pessoa, colocando-o em oração. “O que nos conecta são campos de energia, são ondas de energia. Então, é possível que a gente envie em onda uma energia de cura, bendita, amorosa, para aqueles que precisam, mas não estão frente a frente conosco”, diz.

Maria lembra-se da experiência que teve com o benzimento a distância de uma criança que estava com referência de quebranto. “Era um bebê de 5 meses, a mãe estava em outro lugar. A gente usou, por três dias, o recurso da videoconferência, e eu pude benzer a criança no colo da mãe. Após esses três dias, ela se recuperou. A gente também tem feito muitos benzimentos com os nomes das pessoas, porque a gente recebe muitos e-mails pedindo para ser a distância”, explica.







OFÍCIO

‘Hoje veio uma porção de gente com espinhela caída’, diz benzedeira

Dona Lili, de 80 anos, deixa as portas de casa abertas e benze quem chega: ‘Mãe passou pra mim’



Dona Lili com a imagem de Nossa Senhora Aparecida: benzedeira há mais de 40 anos
PUBLICADO EM 29/04/18 - 03h00

Toda quarta e sexta-feira, dona Lili, 80, deixa as portas de sua casa abertas para quem quiser se benzer. Quando a reportagem chegou à residência, no bairro Estrela Dalva, na região Oeste da capital, duas mães esperavam para benzer seus filhos, e, na saída, por volta de 16h45, outros dois pais chegavam também trazendo seus filhos. “Bença, vó. Tô todo sujo de escola. Tem como benzer hoje, vó?”, disse o pai, segurando o filho no colo. “Tem. Ainda tem sol, né?”, respondeu dona Lili. 

Benzedeira há mais de 40 anos, ofício que aprendeu com a mãe, a senhora natural de Ponte Nova, na Zona da Mata, conta como começou. “Lá em casa, mãe passou pra mim, falou ‘umas oração’, e eu fui fazendo. Não tive escola, o que eu sei está tudo guardado na cabeça. Agora a espinhela, um senhor aqui da rua que me ensinou a medir. Que é esse ossinho (disse apontando para o colo), para lá e para cá, aí que a gente sabe. Mau-olhado minha mãe me ensinou, é uma oração bem pequenininha”, disse.

Para saber se a espinhela está caída, tira-se a medida. Com um fio de algodão ou uma toalha, a benzedeira mede da ponta do dedo mínimo à ponta do cotovelo. Depois de um ombro ao outro. Se coincidirem as medidas, a espinhela está normal. Se não, está caída.

Viúva, católica, dona Lili mora com a filha e os dois netos e recebe em sua casa pessoas de várias partes da cidade, com um sorriso no rosto e sua fé. “Hoje veio uma porção de gente da Pampulha, todos com a espinhela caída. Acho que benzi uns 12 homens. Eu benzo até gente que é evangélico. Jesus é um só. E até enquanto Deus me der força eu vou benzer”, afirma.

No corredor estreito de cimento batido que dá acesso ao cômodo onde dona Lili realiza os atendimentos, em meio a plantas dependuradas, tanque de lavar roupa e um periquito azul na gaiola, a enfermeira Vanessa Silveira, 41, aguardava para benzer a filha. “Eu acredito e acho que mal não faz. Sempre quando ela não dorme bem à noite, fica mais irritada, ou, quando não se alimenta, eu trago para benzer, porque eu vejo que melhora. É como se estivesse tirando uma energia ruim e colocando a boa”, diz a mãe.

A dona de casa Maria, 83, também moradora da região Oeste, conta que aprendeu o cantar em voz baixa e o chacoalhar de ramos de ervas de arruda vendo as benzedeiras a que ela levava os filhos. No entanto, parou de benzer porque estes não aprovam a prática. No caso de dona Lili, a filha também não tem interesse em seguir com a tradição, mas a benzedeira já foi procurada por outras pessoas. “Teve uma senhora que já veio, trouxe um caderno. Eu falei umas orações pra ela, e ela escreveu tudo”, lembra.

Segundo o professor convidado da pós-graduação de ciência da religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Faustino Teixeira, essa tradição típica do catolicismo se mesclou com outras religiões. “Caracteriza-se por muita reza, pouca missa, muitos santos, pouco padre. Não se acabou, mas a linha de continuidade da tradição foi se enfraquecendo em razão de nem sempre filhos seguirem a trajetória dos pais, além do fato de ser muito perseguida por outras tradições”, analisa.

Documentário. A diretora Sílvia Batista Godinho decidiu dar espaço para as muitas histórias de mulheres responsáveis pelo tratamento místico em comunidades e produziu o documentário “Benzedeiras”. Filmado em São Sebastião das Águas Claras (Macacos), na região metropolitana, o documentário chama atenção para a resistência da tradição e está disponível no YouTube.

Decreto. Em 2016, a então presidente Dilma Rousseff assinou o Decreto 8.750, que cria o Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, onde as benzedeiras também têm espaço. 

Pesquisas mostram que funciona

A ciência vem se interessando em decifrar como as experiências espirituais e religiosas se manifestam no cérebro humano e afetam, por exemplo, a saúde das pessoas. Uma das descobertas de neurocientistas da Faculdade de Medicina da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, publicada na revista “Neuroscience Social”, é que essas práticas ativam áreas cerebrais ligadas à concentração e à recompensa, assim como acontece em situações que envolvem amor, sexo, drogas, música e jogos.

Outras pesquisas já demonstraram que, de modo geral, as pessoas com maior envolvimento religioso tendem a ter melhores níveis de felicidade, menos casos de depressão, de suicídio e de uso de drogas. No entanto, algumas formas de religiosidade podem ser deletérias.

As pesquisas científicas que abordam a cura pela espiritualidade têm crescido exponencialmente. Nos Estados Unidos, cinco universidades tinham incluído a espiritualidade em seus currículos acadêmicos em 1993. Sete anos depois, o número subiu para 65, e, em 2004, 84 escolas médicas ofereciam disciplinas optativas ou obrigatórias.

Minientrevista

Maria Bezerra
Assistente social e benzedeira
Escola de Benzedeiras


O que é o benzimento?

É o ato de você interceder, se colocar como intercessor entre uma força maior que está além de você, que pela fé consegue alcançar o grande mistério, e uma pessoa que está diante de ti, em sofrimento e em dor. Então, você se coloca como um meio de acessar uma força maior por meio do seu amor incondicional. É preciso ter amor no coração e o desejo de cuidar e curar o outro. O benzimento também é o ato de bem dizer o outro, trazer palavras benditas, palavras que trazem o bem-estar, conforto, que resgata a fé e o equilíbrio emocional.

Quem precisa se benzer?

Todo aquele que assim sentir. Porque a necessidade está naquele que busca. Então, se aquele que busca diz “preciso ser benzido”, então aquele que pede o benzimento precisa.

O que pode ser benzido?

Várias enfermidades, várias doenças, inclusive que não estão no protocolo médico, como o quebranto, espinhela caída, cobreiro, erisipela (infecção de pele), torcicolo, luxações, quebraduras, enfim, quase tudo.

Está ligado a uma religião exclusivamente?

O ato de benzer não se vincula a nenhuma religião. Tem benzedeiras que não têm nenhuma religião, outras são católicas, espíritas, enfim, podem ou não ter religião. Mas é imprescindível ter fé, e a fé está para além de qualquer religião. A fé é primordial no ato de benzer.

O que é benzer pra você?
É um grande ato de humildade, de amor, de desejo de cura do outro e de mim mesma também, porque o ato de benzer tem mão dupla. É um ato de dar e receber. Ao mesmo tempo que eu estou bendizendo, benzendo, cuidando e curando o outro, eu cuido e curo a mim mesma.

É possível aprender a benzer?
Sim. Periodicamente realizamos oficinas de benzimento porque acreditamos que é possível ensinar o que se aprende do mesmo jeito que era antes. Não é preciso ter o dom. As benzedeiras com quem aprendi me provaram que não precisa ser parente de uma ancestral direta, pois a nossa família cósmica está aí para acessar e compartilhar o conhecimento dela.
Fonte:https://www.otempo.com.br/interessa/

Benzedeira realiza cura espiritual dentro de shopping de Belo Horizonte
23/05/2014 18:37
 por Luciane Evans
O 5ª Avenida não é lugar apenas para fazer compras ou almoçar. Há 12 anos, em uma pequena sala do edifício, uma mulher recebe pessoas que querem cuidar do espírito e dar uma espiadinha no futuro.

Maria José Limma, baiana, atrai diariamente dezenas de pessoas ao Shopping 5ª Avenida: "Para benzer, não se pode cobrar nada" (foto: João Carlos Martins/Encontro)

No canto da sala, os orixás do Pelourinho. Estão ali Oxum, Oxossi, Iansã. Do outro lado, arruda, espada-de-são-jorge, alecrim. Sobre a mesa, os búzios e as cartas de tarô. Se para essa cena lhe veio à mente um terreiro, uma mulher mais velha e cheia de colares, caro leitor, esqueça! Esse universo místico e misterioso é comandado por Maria José Limma, de 46 anos. De calça jeans e camiseta, ela atende no 10º andar do Shopping 5ª Avenida. Maria José é baiana, benzedeira e seu dom atrai ao shopping dezenas de pessoas, todos os dias. 

Saída do Recôncavo Baiano, chegou a Minas Gerais quando tinha 18 anos, para estudar. Trouxe consigo toda a crença e o misticismo de lá. Quando pequena, aprendeu a benzeção com as mulheres da sua família e, de tanto ver a mãe jogar búzios, iniciou-se no arremesso das conchas. Escondida do pai, que lhe cobrava empenho nos estudos, aprendeu também tarô.

Por tradição, Maria José é ainda contadora de histórias africanas e alfabetizou crianças em Contagem, na Grande BH. Casou-se com um mineiro, com quem teve quatro filhos. Formou-se em filosofia pela  Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e se especializou em história da África, pela mesma universidade. Mas a vocação que a Bahia lhe deu falou mais alto. O conhecimento de encantamentos, do tarô e dos búzios atraiu os mineiros. “Lembro que o primeiro passo para isso foi a feira esotérica na praça Sete, onde montei uma tenda e comecei a atender. A partir daquele dia, meu telefone não parou de tocar.” Até que uma cliente a questionou por que não criava o próprio espaço. 

Maria aceitou o desafio e procurou um espaço na região Centro-Sul. Ali estaria mais próxima de sua clientela, que em sua maioria morava na Savassi, Sion e Funcionários. Encontrou no  Shopping 5ª Avenida uma loja esotérica onde pôde, durante três anos, atender três  vezes na semana. “Mas não gostava de relacionar o serviço com a venda de produtos. Então, aluguei uma sala no edifício, onde estou há 12 anos.”  Hoje, ela ganha dinheiro lendo cartas e jogando búzios. São, geralmente, seis clientes por dia. A maior procura, no entanto, cerca de 20 pessoas diariamente, é pela benzeção. “Para benzer, não se pode cobrar nada”, avisa. Contra as dores físicas ou espirituais, o dom da baiana faz sucesso. E para ela significa prece, fé e humildade. “É dar ao outro leveza.”

Com ramos de arruda ou alecrim, que, segundo ela, espantam a energia negativa, ela faz suas preces como se tirasse do corpo do outro todo o peso da alma. É comum ela dar recados aos benzidos. “Há vezes em que escuto uma voz que me manda dizer algo quando benzo, e eu digo.” Dia desses, uma mulher a procurou para a bezenção e ela transmitiu o recado que uma voz lhe pedia para dar. “Disse a ela para não se preocupar, pois não tinha nenhum problema físico e que engravidaria naturalmente. Ela chorou e me contou que há tempos faz tratamento para ter um filho.” Maria não sabe explicar ao certo de onde vem essa sensibilidade. “É algo muito forte. Pode ser o anjo da guarda do outro falando comigo. É consciente e real”, acredita. 

Todos os dias da semana, ela chega ao shopping às 9h e só vai embora às 21h. Nunca sai de casa sem acender uma vela ao seu anjo da guarda. “Benzedeiro tem de se cuidar. Tomo banho de sal grosso com pétalas e vou a cachoeiras. Sempre faço uma limpeza energética na minha sala.” Além dos adultos, ela benze crianças, que são levadas pelos pais, na maioria das vezes, aos sábados, quando Maria fica até as 15h em sua sala. Ela diz que tudo isso é a sua missão. “Quando benzo, sou porta-voz do milagre que o outro quer.” Que os anjos digam Amém!
Dicas de proteção
  • Tenha em casa violetas, pois elas trabalham a neutralização da energia

  • Cultivar a planta espada-de-são-jorge ajuda na proteção

  • Para quem tem crianças em casa, é bom ter mirra ou arruda, que absorvem as energias negativas

Banhos energéticos com pétalas de flores e sal grosso sempre fazem muito bem

Fonte:https://www.revistaencontro.com.br/canal/atualidades/2014/05/benzedeira-realiza-cura-espiritual-dentro-de-shopping.html

Benzedores, rezadeiros e raizeiros da Grande BH fazem encontro em Betim


Evento é realizado para troca de experiências e preservação de ofício milenar de combate a males do corpo e da alma




(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)


As palavras são mantidas em segredo, atravessaram séculos e passaram de pai para filho em forma de oração. Com frases repetidas mentalmente, estão nas mãos terços, folhas de arbustos e árvores, velas, copos com água e, sempre, uma energia fluindo para garantir a cura. Em Minas, homens e mulheres preservam um ofício que atrai milhares de pessoas, independentemente da classe social: benzer contra mau-olhado, espinhela caída, quebranto, enxaqueca e outros males do corpo e da alma, incluindo até as dores de amor.



Para manter viva a tradição oral e o rico patrimônio imaterial, foi promovido ontem, em Betim, na Grande BH, o Encontro de Benzedores, Benzedeiras, Rezadores, Rezadeiras e Raizeiros e Raizeiras, como parte da 4ª Jornada Mineira do Patrimônio, promovida pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG). E estiveram presentes, além de Betim, moradores de Juatuba, com histórias e práticas recheadas de emoção.

Benzedeira é Mestre da Cultura Popular de BH-VÍDEO





Com 96 anos de idade, a benzedeira Dalila Senra Fabrini acaba de receber o título de Mestre da Cultura Popular de Belo Horizonte, outorgado a ela pela Fundação Municipal de Cultura.


Fonte:https://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/09/26/interna_gerais,453206/benzedores-rezadeiros-e-raizeiros-da-grande-bh-fazem-encontro-em-betim.shtml


Congadeira, benzedeira e capoeirista mineiros recebem título de mestres da cultura popular

Reconhecimento celebra a manutenção de conhecimentos para novas gerações

25/01/2016 08:30

por Ana Clara Brant



Dona Zilda, capitã da Guarda de Congo Feminina de Nossa Senhora do Rosário, do Bairro Aparecida (foto: Fotos: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Mestre é aquele que ensina; que é perito ou versado numa ciência ou arte, homem de saber e que serve de guia ou guru. No caso da cultura popular tradicional, passada de geração em geração sem formalidades acadêmicas, o mestre é a figura que transmite seu conhecimento a outra pessoa e esta começa a colocar em prática seus ensinamentos, e assim por diante. Dona Zilda Pereira Lisboa, de 64 anos, a Tia Zilda, fundadora e 1ª capitã da Guarda de Congo Feminina de Nossa Senhora do Rosário do Bairro Aparecida. Serafina Terezinha Pereira, de 77, a dona Fininha, benzedeira do Novo Glória. E Antônio Maria Cavalieri, o Mestre Cavalieri, também de 77 anos, uma lenda da capoeira na cidade e morador do Sagrada Família, são alguns exemplos desses patrimônios vivos que mantêm acesas essas manifestações. Os três foram os agraciados da segunda edição do Prêmio Mestres da Cultura Popular, promovido pela Fundação Municipal de Cultura, entregue em cerimônia no Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado. Além da valorização e do reconhecimento de suas tradições (congado, benzeção e capoeira), cada um deles – indicado por suas comunidades – recebeu R$ 15 mil e certificado alusivo ao título de mestre da cultura popular de Belo Horizonte.


Desde menina, dona Zilda Pereira, nascida e criada na capital mineira, se encantava pelas cores, sons e, sobretudo, pela fé da Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário, criada pelos avós há mais de sete décadas. Como a presença das mulheres não era bem-vista no início da década de 1970, ela acabou ajudando a fundar a versão feminina dessa expressão cultural e religiosa. “Acho que lá de casa, fui a que mais herdou esse gosto pelo congado, pelas festas religiosas. Eu era bem pequenina e já gostava de tocar tambor e carregar o estandarte. É um legado de que tenho muito orgulho”, destaca dona Zilda. A 1ª capitã, cargo que ocupa desde a criação da guarda, tem a missão de comandar e organizar os festejos e demais eventos.

Há outros títulos como as rainhas perpétua, a de Nossa Senhora do Rosário, a rainha e o rei congo, por exemplo, cada um com missão específica. “Não é fácil levar adiante uma tradição que não tem mais tanta adesão entre os jovens e não é tão valorizada como antigamente. Até para se manter financeiramente é complicado. A gente vive de doações de amigos, fazemos eventos beneficentes. Mas, apesar dos pesares, tenho uma alegria enorme em divulgar essa manifestação cultural tão rica e essa fé que meus pais e avós me ensinaram. E espero que essa raiz se perpetue”, anseia.

A sede da Guarda Feminina funciona na casa onde dona Zilda Pereira viveu dos 3 aos 20 anos, quando se casou pela primeira vez. O local fica enfeitado o ano todo, sendo que espaço que mais chama a atenção é a capelinha de Nossa Senhora do Rosário, que, inclusive, foi abençoada pelo cardeal e arcebispo emérito de BH, dom Serafim Fernandes de Araújo. O auge das comemorações ocorre em outubro, quando, durante três dias, se celebra a santa que norteia e dá nome ao grupo. “Mas, ao longo do ano, a gente é convidado pras festas de outros santos e levamos nossa crença e nossa alegria”, ressalta.









A benzedeira Dona Fininha acredita que recebeu um chamado de Deus e de Nossa Senhora (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Fonte:https://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2016/01/25/noticia-e-mais,176432/congadeira-benzedeira-e-capoeirista-mineiros-recebem-titulo-de-mestre.shtml

VOCAÇÃO 

A fé também guia Serafina Terezinha Pereira, a sempre otimista dona Fininha, benzedeira que descobriu seu dom quando era adolescente e ainda morava em São João Evangelista, no Vale do Rio Doce, onde nasceu. A prima também benzia e percebeu essa vocação em dona Fininha, que, no início, relutou bastante. “Não entendia o que era, tinha medo. Até minha família não gostava. Foi só quando meu irmão quebrou a perna e eu, com minhas rezas, o ajudei a se recuperar que minha mãe passou a gostar. Benzeção é uma coisa que a gente tem e não sabe explicar”, diz. A mestra se mudou para a capital quando tinha 16 anos. Veio para o casamento de uma das irmãs, gostou da cidade e por aqui ficou. “Era muito diferente do interior. Mas eu precisava ajudar meus pais, que ficaram lá. Trabalhei em casa de família, ajudei a tomar conta de menino. Foi muito bom eu ter mudado pra cá. De São João, só sinto falta do santo”, brinca.

No Novo Glória, Região Noroeste da capital, fixou moradia e criou sua família “sem dinheiro, mas com muita luta”, como gosta de frisar. No quintal da casa onde ainda vive e teve seis filhos – entre eles, o músico Sérgio Pererê, um dos fundadores da Associação Cultural Tambolelê, de percussão –, dona Fininha planta algumas das ervas que ajudam na benzeção, como manjericão, arruda e rabo de foguete. “Cada pessoa tem um tipo de benzeção e um tipo de ramo sagrado. E o povo vem aqui pra proteger e afastar o mal e também pra se curar, tratar. Já curei muita gente. Mas a pessoa tem que acreditar. É uma coisa muito séria, mas isso não significa que tenha que deixar de ir no médico”, aconselha.





A grande benzedeira matriarca negra do bairro Glória de belo horizonte. Nascida em São João Evangelista, Dona Fininha é homenageada pelos filhos e netos através de grande show incluindo canções que fizeram parte de sua vida. Transitando entre os tambores da umbanda, do congado e dos caboclinhos ao bolero, o samba e o rap.
Foto: Santone Lobato

Entre os seus abençoados, gente comum, como os vizinhos que variam de crianças a idosos, até famosos como o diretor Luiz Fernando Carvalho e a atriz Inês Peixoto. Os artistas descobriram esse talento de dona Fininha quando ela foi uma das convidadas a atuar no seriado global Subúrbia (2012), em que interpretou a mãe da protagonista, papel da mineira de Contagem Erika Januza. “Fui na Globo, lá no Rio, e foi tudo um sonho. Até benzi os lugares onde a gente gravou. A Inês Peixoto, que me ajudou na preparação, foi um amor comigo e até o diretor Luiz Fernando, que era meio brabo (risos) e exigente, eu benzi”, relembra.

Devota de Nossa Senhora do Rosário, assim como sua colega de prêmio, Zilda Pereira Lisboa, dona Serafina acredita que se tornou benzedeira pela vontade de sua “santinha” e de Deus e agradece diariamente tudo que ocorreu com ela ao longo dos seus 77 anos de vida. “Deus dá o que a gente merece. Benzer é um chamado e, se ele me escolheu, é porque achou que eu tinha capacidade pra isso. Sabe que, de vez em quando, eu mesmo me benzo? Na hora que a coisa aperta, até xingo: ‘Tá amarrado em nome de Jesus’”, comenta, rindo.

Fonte:https://www.uai.com.br/app/noticia/e-mais/2016/01/25/noticia-e-mais,176432/congadeira-benzedeira-e-capoeirista-mineiros-recebem-titulo-de-mestre.shtml

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Bença Mãe – Homenagem a matriarca e benzedeira Dona Fininha com Sérgio Pererê e convidados

A grande benzedeira matriarca negra do bairro Glória de belo horizonte. Nascida em São João Evangelista, Dona Fininha é homenageada pelos filhos e netos através de grande show incluindo canções que fizeram parte de sua vida. Transitando entre os tambores da umbanda, do congado e dos caboclinhos ao bolero, o samba e o rap.
Foto: Santone Lobato
Fonte:http://www.fanbh.com.br/programacao/sergio-perere-benca-mae-homenagem-a-matriarca-e-benzedeira-dona-fininha/

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Uma vida dedicada a Caridade e Orações

05 DE FEVEREIRO DE 2015

No último dia 15 de janeiro uma figura ilustre de Sabará completou 72 anos; Maria da Conceição de Assis Gomes, a dona Piu, que nos últimos 50 anos já benzeu várias gerações da cidade.
O apelido veio de infância, ?desde criança meu pai me chamava de Piu, ele criava galinha e quando comecei a falar, imitava os pintinhos, só ficava falando: ?piu,piu ...?. Daí meu pai começou a me chamar de Piu?, conta.
Nascida e criada em Sabará, dona Piu conheceu a caridade bem cedo, sua grande vontade era ser irmã de caridade, mas o pai não deixou, ele dizia que não gostaria de ver a filha longe dele.
Como não pôde entrar para um convento, resolveu fazer caridade em casa e desde muito cedo. Antes dos dez anos, ela já era chamada por famílias de crianças recém nascidas que morriam para vesti-las, ?eu fazia as roupinhas e vestia os anjinhos para serem enterrados?, lembra.
Nessa mesma época, ela começou a distribuir mantimentos para pessoas que passavam na porta de sua casa e pediam. ?As pessoas chegavam aqui diziam que tinham quatro filhos para criar, mas não tinham alimentos. Eu ia à dispensa e arrumava o mantimento?. Dona Piu conta que seu pai fazia compra para três meses, em um mês acabava todo o mantimento, ?ele chamava minha atenção e reclamava do alimento acabar. Eu falava que se não pudesse doar eu iria para o convento, então ele liberava?, conta sorrindo.
O objetivo sempre foi ajudar ao próximo. Aos doze anos passou a entregar marmitas na Belgo, para ajudar mulheres que não tinham como levar o almoço para o marido. Aos treze, aprendeu a bordar, então fazia e doava roupinhas para crianças que precisavam, fazia também vestidinhos de anjo para coroação. Além disso, olhava crianças para as mães que precisavam trabalhar ou tinha outras ocupações.
As doações continuam até hoje, em poucas horas em sua casa, são várias as pessoas que chegam pedindo alguma doação, seja roupas, mantimentos e claro para serem benzidas. Pessoas saem de longe para receber a benção de dona Piu.
Ela conta que vem de uma família de benzedeiros, então traz esse dom consigo, mas esta história começou quando tinha apenas 12 anos. ?Um dia estava passando em frente ao Cravo Vermelho, aí encontrei com Chico Xavier então ele me disse, ?vi você dentro da barriga de sua mãe, sabia que seria uma estrelinha que iria iluminar muita gente, ser a mãe do povo?, ela conta que ficou um pouco assustada, mas a conversa não terminou por aí. ?Ele me disse também que dos 12 anos aos 21 eu iria estudar com a irmã dele imposição de mãos e que a partir dos 22 começaria a benzer?, assim ela fez.
Dona Piu ficou por quase 10 anos acompanhando dona Maria Cândida Xavier em seus passes, com ela aprendeu sobre a imposição de mãos e espiritualidade, depois desse ?curso? passou a benzer. Como ela faz questão de frisar no dia 19 de abril de 1965, aos 22 anos, assim como disse Chico Xavier, Dona Piu, católica convicta, passou a benzer e nunca mais parou.
Ela tem certeza que foi escolhida, porque o benzedor que não é escolhido para em pouco tempo. A benzedeira conta que para começar a benzer teve uma conversa com Deus para pedir muita paciência e persistência, pois sabia que iria passar por muitas dificuldades.
Foi dessa forma que passou a benzer várias gerações de sabarenses e pessoas vindas de diversas partes do estado e do país.
Além de ter vindo de uma família de benzedeiros, Dona Piu acredita que herdou o espírito da escrava Anastácia, que teria vivido no século XVII e era curandeira, ajudava os doentes, e com suas mãos, fazia verdadeiros milagres, além de impressionar a todos com sua estonteante beleza.
Admiradores de Dona Piu
Dona Piu diz que já chegou a benzer mais de 80 pessoas por semana, mas esse número diminuiu um pouco nos últimos tempos, por estar muito cansada, mas mesmo assim, nessa época do ano, quando muitas pessoas saem para viajar, o número ultrapassa 80. As vezes chega a benzer 30 em apenas um dia.
Nossa equipe passou cerca de três horas na casa de Dona Piu, nesse tempo, foram mais de 10 pessoas que passaram em sua casa, quando não era para benzer, era para pedir uma doação ou apenas ouvir um conselho da senhora, que além de benzedeira, é uma excelente conselheira, principalmente para casais. Dona Piu conta que são diversas as pessoas que vão até ela apenas para ouvir uma palavra ou um conselho.
O comerciante Elvio Lopes, ex-policial militar, é um deles. Ele é de Belo Horizonte e pelo menos a cada dois meses vai à casa de Dona Piu receber sua benção e ouvir um bom conselho. Elvio diz que a bebida quase o matou, por causa dela perdeu tudo que tinha, mas através de um amigo foi parar no A.A e também passou a frequentar a casa de Piu , onde começou a receber suas bênçãos e ouvir seus conselhos. Ele acredita que as orações da benzedeira e seus conselhos foi o que o salvou.
O técnico de informática, Leandro Félix, também veio da capital para benzer seu filho com Dona Piu. O garotinho de quatro anos estava com uma infecção na garganta e uma ferida no dedo. Ele disse que conheceu Dona Piu através de um amigo e por isso estava levando o filho pela primeira vez à senhora, confiante que os problemas da criança iriam passar.
Por causa de seu trabalho, dona Piu já recebeu várias homenagens. Em sua casa podemos encontrar com facilidade placas, quadros, certificados e diplomas, todos pelo reconhecimento dos feitos que esta humilde senhora realizou e ainda realiza para o povo.
Família
Dona Piu está casada há 50 anos, o mesmo tempo em que benze, teve seis filhos e em praticamente todos os partos teve dificuldades, sempre achou que fosse morrer no parto, mas felizmente sobreviveu a todos. Em um dos partos perdeu praticamente todo sangue do corpo e teve que fazer uma transfusão às pressas. Seus seis filhos lhe deram 11 netos.
Além disso, criou mais de dez crianças. Ela conta que como muitas mães não tinham condições de criar seus filhos deixavam em sua casa, mas como ela também não podia ficar com a criança, cuidava por um tempo até aparecer um casal que quisesse adotar, mas ela faz questão de frisar que tudo era feito acompanhado pelo Conselho Tutelar e pelo juiz da cidade.
Hoje, Dona Piu já não adota mais crianças, mas continua benzendo as novas gerações e fazendo doações de roupas, alimentos, palavras e tempo para todos aqueles que precisam.


Fonte:http://folhadesabara.com.br/noticia/3581



VOCÊ SABIA QUE AS BENZEDEIRAS TÊM JÁ SEU OFÍCIO LEGALIZADO?


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benzedeiras

Brasil tem benzedeira em todas as terras, pequenas e grandes. É uma tradição que vem de longe. Os indígenas benzem, os africanos benzem, os europeus benzem, e cada qual em sua ritualística, com sua religião. E o Paraná já tem duas cidades onde a lei reconhece as benzedeiras como agentes de saúde pública.
Primeiro foi a cidade de Rebouças, desde 2009 e depois, em 2011, São João do Triunfo. Nessas duas cidades paranaenses a ação das benzedeiras, rezadeiras, curandeiras e costureiras de rendiduras (dores musculares) foi reconhecida e legalizada. Na prática, a lei “legalizou o acesso e manipulação de ervas medicinais por essas “profissionais”, de modo a facilitar o atendimento delas à população” o que quer dizer que, a partir da aprovação da lei, as benzedeiras cadastradas têm livre acesso a qualquer terreno municipal de Rebouças e São João do Triunfo, mesmo que sejam terrenos privados, para coletar as ervas de que precisam para suas curas, desde que as leis ambientais sejam respeitadas. Leia mais no aqui sobre as duas aprovações citadas acima.
Mas, em muitas outras cidades brasileiras, apesar da legislação não acompanhar o uso que a população faz das benzedeiras, essas atuam inclusive com a aprovação dos médicos de família. Esse é, por exemplo, o caso do município de Maranguape (CE) onde a ação conjunta de médicos e benzedeiras obteve uma significativa vitória sobre a morte de crianças pequenas, pelo acompanhamento dessas mulheres que estão muito mais próximas da realidade da sua comunidade e conhecem ervas, e soluções alternativas, para problemas que, em não sendo atendidos à tempo, podem matar.
Abaixo você poderá conhecer o trabalho das benzedeiras em Vila Macacos, Belo Horizonte pelo documentário "Benzedeiras", dirigido por Sílvia Batista Godinho. Veja aqui a matéria completa.

Ou então, como a verdade das benzedeiras de Rio de Contas (BA), mulheres detêm a “arte de curar, de aliviar e de consolar” nas palavras de René Penna Chaves, autor de um livro chamado “Medicina Antropológica, publicado pela editora Sarvier, São Paulo, em 1976. As benzedeiras de Rio de Contas são de origem africana mas seus ritos de cura também são fortemente marcados por elementos indígenas (pajelança) e católicos. E fazem tão bom efeito quanto as benzeduras feitas por benzedeiras portuguesas, ou espanholas, ou, enfim, de qualquer outra nacionalidade e origem. O que importa é o ato de benzer e a vontade de o fazer bem feito, as ervas usadas de forma acertada, cuja “ciência de cura” é consagrada pelos milênios de uso popular, o uso da água como veículo de essências, lavagem, banhos, escalda-pés, e a firme convicção de que vai dar certo. Leia mais aqui sobre esse trabalho.
Em 2011 as benzedeiras dos municípios de São João do Triunfo e de Rebouças conquistaram o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, do IPHAN, pelo projeto de mapeamento social das benzedeiras da região, com o apoio do MASA – Movimento Aprendizes da Sabedoria, o que é mostrado no filme "Benzedeiras - ofício tradicional".
Ou como a história de Dona Dalila Senra Fabrini (não sei se ainda estará viva pois já lá ia pelos 94 anos, e continuava benzendo), de Belo Horizonte (MG) que se descobriu benzedeira em uma necessidade de um filho seu, como ela mesma conta no vídeo abaixo, e cujo trabalho deu à capital mineira o reconhecimento dela como um patrimônio imaterial de Belo Horizonte recebendo o prêmio da Fundação Municipal de Cultura como mestre da cultura popular da cidade em dezembro de 2014.
Fonte:https://www.greenme.com.br/viver/saude-e-bem-estar/3331-voce-sabia-benzedeiras-oficio-legalizado

BENZEDEIRAS, REZADEIRAS, CURANDEIRAS: A CURA PELA NATUREZA E PELA FÉ

  • atualizado: 



benzedeiras
Em cada pedaço de chão do interior do nosso Brasil existem homens e mulheres que são curadores, que aplicam a sabedoria ancestral, em chás de ervas, banhos e benzimentos, com rezas e cantos, e com essas práticas conseguem minorar muitos dos males que atingem os que as consultam. Assim, são essas pessoas, que conhecem as folhas, as cascas, os cipós, as luas mais propícias e também, as rezas que orientam sua fé na cura.
Pelo efeito da fé daqueles que aplicam conhecimentos de cura que vêm de povos tão distintos - brancos, negros, indígenas - as benzedeiras, curandeiras ou costureiras de machucaduras, como também são conhecidas em alguns lugares, têm suprido a falta de atendimento médico em localidades remotas. Há também quem, mesmo nas cidades, prefira procurar uma benzedeira para casos em que a cultura popular identifica como sendo de trato das benzedeiras - empacho, espinhela caída, quebrante, bucho virado, e tantos outros nomes que o povo usa para designar sensações físicas muito incômodas.

Benzedeiras-Ofício tradicional (Rebouças, Paraná)

No município de Rebouças, Paraná, as benzedeiras se organizaram e conseguiram o reconhecimento do seu ofício. Hoje, por lei municipal, todas são identificadas por uma carteirinha que as identifica. Assim, podem trabalhar no seu ofício sem o susto de serem autuadas ou denunciadas. Desde 2010 são reconhecidas pública e legalmente. É o que nos conta o documentário de Lia Marchi, “Benzedeiras - Ofício tradicional”, que foi lançado no passado dia 5 de Novembro na reitoria da Universidade Federal do Paraná - UFPR.
Cuidar da vida é a nossa missão! Esse é o lema das benzedeiras do Paraná.

Benzedeiras do Parintins, Amazonas. Um trabalho de comunicação popular

Outro documentário muito interessante sobre as benzedeiras e rezadeirasé este, o das Benzedeiras do Parintins, que apresenta várias benzedeiras do Amazonas, apresentado como trabalho de conclusão de curso de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas - UFAM

Eu que te benzo, Deus que te cura

E aqui mais um documentário sobre este tema tão brasileiro, Eu que te benzo, Deus que te cura, que foi apresentado como trabalho de conclusão do curso de jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina.
Neste videodocumentário foram registradas as práticas terapêuticas religiosas populares realizadas por benzedeiros de Florianópolis, um resgate cultural muito interessante que mostra como e porquê o conhecimento da benzedura é adquirido, realizado e praticado.
Neste documentário são entrevistados também um historiador, uma psicóloga, uma antropóloga, um médico e um ambientalista - a ampliação, para o mundo científico, desta discussão, é muito benéfica para o entendimento da importância das práticas de benzedura e suas origens.

Fonte:https://www.greenme.com.br/viver/costume-e-sociedade/2517-benzedeiras-rezadeiras-curandeiras-a-cura-pela-natureza-e-pela-fe



Um olhar acolhedor »

É preciso ter fé para buscar a cura, dizem especialistas sobre os benzedeiros


Luciane EvansPublicação:13/04/2014 08:01

Crucifixo, plantas, imagens de santos e orações inventadas por quem benze são usados no ritual




Aos 91 anos, Dona Aurora Ferreira dos Santos cria as próprias orações. Ela é procurada por dezenas de pessoas interessadas em sua bênção





Quebranto, cobreiro, mau-olhado, espinhela caída, vento-virado, sentido… Esses nomes, longe do universo científico, fazem parte de um mundo mágico, povoado de rezas, crenças, simpatias e benzeções. São diagnósticos dos benzedeiros em Minas Gerais. São ditos por eles, sem enganos. E para cada um desses males, físicos ou espirituais, há orações e formas de benzer. Há quem use crucifixo, plantas, imagens de santos e até a água para o rito. A prática, em pleno século 21, não mudou muito, mas vem sendo adaptada. E hoje há até quem benza por telefone. Mas será que os rituais têm mesmo poder de cura? Para quem tem nas mãos e no olhar o dom, a resposta é uma só: é preciso ter fé.

Há 12 anos, o filósofo Stephen Simim, professor de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), fez uma dissertação de mestrado sobre as benzedeiras no estado e, desde então, se interessa pelo assunto. “Muitas são analfabetas, vivem em casas muito simples. A maioria é de mulheres. Acredito que isso está ligado à relação do feminino com a natureza. Lembro-me de uma dizer que da terra vem a doença e da terra vem a cura.” Diante de tudo que viu e ouviu, ele não duvida da cura e lembra-se de casos curiosos. “Todas as identificações de vento-virado, espinhela caída, mau-olhado e outros problemas estão associadas a algum mal. Diante do rito, percebi a mudança no estado da criança. Pude acompanhar de perto: as pessoas chegavam de uma forma e saíam de outra”, comenta. 
Ele acredita que nesse encontro ocorra algo importante, que pode ser um milagre ou não. “Às vezes, nada mais é que a dificuldade de alguém que não conseguia um lugar para ser acolhido. As benzedeiras, antes de tudo, acolhem. Elas conversam, ouvem, tocam e interagem com o problema de quem as procura. Vi pessoas saindo bem diferentes do que entraram e aquelas que, ao fim de um ciclo de benzeções, mudavam. Não tenho uma definição para isso, mas acredito que a prática traga algo novo, senão, não estaria até hoje”, defende. 

O segredo nada mais é que a fé, conforme resume Maria da Conceição de Souza, de 61 anos. Benzedeira no Bairro Nazaré, na Região Nordeste de Belo Horizonte, ela conta que aprendeu o ofício com uma senhora que benzia os filhos de sua patroa. Com o conhecimento adquirido, optou por benzer somente crianças, pois os “adultos chegam muito carregados”. Para ela, a benzeção é o caminho para aquilo que a medicina não cura. “Mas as mães têm que ter fé, senão, os meninos não melhoram.” Quando o Bem Viver esteve em sua casa, Michele Avelino, de 24 anos, já a aguardava. “Quando pequena cheguei aqui pois estava há dois dias sem comer. Quando ela me benzeu, comi até arroz com feijão. Hoje, trago o meu filho Lucas, de 1 ano.”

Quando chegou Miguel, de 3 anos, Maria deu o diagnóstico. “Está sentido.” Segundo ela, isso acontece quando a criança está indisposta, sem comer e triste, o que pode ser mau-olhado. “No caso de vento-virado, ela tem um dos braços ou uma das pernas mais curta que a outra. Isso pode ser um susto que tomou. Nesses casos, é bom benzer três vezes. Se a mãe está nervosa ou teve briga em casa isso reflete na criança. Quando os pequenos forem elogiados, é bom dizer ‘Benza Deus’, para protegê-los”, aconselha. Maria benze com folhas de arruda, manjericão, reza Pai Nosso, Ave Maria e Salve Rainha.

Ela não acredita no fim da prática, mas confessa não ter alguém para quem passar o seu conhecimento, já que seus filhos não querem tamanha responsabilidade. Segundo Stephen, há duas formas de eternizar a prática. A primeira delas é a transmissão por gerações. “A outra é a experiência mística. A pessoa não aprendeu com ninguém e passou a benzer por meio de uma vivência.” Ele lembra outros elementos que envolvem a prática, como o uso das plantas medicinais.

ORAÇÕES Outro destaque do pesquisador são as orações. Muitas benzedeiras criam suas rezas, que ninguém sabe de onde vieram, nem elas (veja na página 4). É o caso de Aurora Ferreira dos Santos, de 91 anos. Famosa em Belo Horizonte, Aurora cria suas orações, que já salvaram muitos. Analfabeta, ela diz que benzer é retirar o mal das pessoas e uma das dicas que dá a todos é relacionada a esses males abstratos. Ela diz para ficarmos atentos àquelas mariposas que entram dentro de nossas casas. “Tem que retirar e mandar para longe. A bruxa é sinal de que há alguém não está lhe desejando o bem”, ensina. 

Mesmo com a idade avançada, todos os dias ela é procurada por dezenas de pessoas, inclusive por quem mora fora do país. E, nesses casos, ela usa o telefone para benzer. Na sua casa, no Bairro Floramar, na Região Norte da capital, já foram de pedreiros a juízes em busca de suas mãos e olhos abençoados. Ela tem no seu altar imagens de Santa Bárbara, Cosme Damião e São Sebastião. Como bem observou Stephen, é comum não se benzer à noite, somente na luz do dia. Aurora tem esse hábito e outros também. “Uma vez, na Sexta-Feira da Paixão, uma mulher me procurou. Quando a benzi, saíram dela três espíritos. Nunca mais benzi nesta data”, recorda. Toda noite, depois de benzer as dezenas de pessoas, ela pega um terço e reza por cada um que lhe procurou. Nunca cobrou pelo serviço e diz que a recompensa está na saúde que Deus lhe dá. “Enquanto Ele me der licença, vou trabalhar”, afirma.

Fonte:http://sites.correioweb.com.br/app/50,114/2014/04/13/noticia_saudeplena,148288/e-preciso-ter-fe-para-buscar-a-cura-dizem-especialistas-sobre-os-benz.shtml

Longe do fim »

Benzedeiros carregam em si a fé e as boas energias que passam para outras pessoas


Luciane EvansPublicação:13/04/2014 07:55

Em Minas Gerais, há um estudo para transformar o ato de benzer em bem imaterial




Mário Braz, de 81 anos: no próximo dia 28, a Comunidade dos Arturos, em Contagem, na Grande BH, recebe o título de Patrimônio Imaterial de Minas Gerais

Sobre um banco de concreto, das 8h às 17h30, Mário Braz, de 81 anos, se senta à espera das cerca de 70 pessoas que o procuram todos os dias. Nos pés, um chinelo velho. Nas mãos, a fé e o mistério que não revela. “Tenho aqui os santos para todas as dores. Parece um molho de chaves, mas não é. É um segredo”, diz, com toda a simplicidade que lhe cabe. Seu Mário, como é conhecido, não se formou em medicina, mas sabe de cor as orações para cada mal do corpo e da alma. “Sou benzedeiro. É um dom que Deus nos dá.” Há 39 anos, ele benze quem o procura com as imagens de santo no chaveiro e a folha de arruda. Tem sabedoria de doutor. Não tem pressa. Sabe que cada palavra é divina e tem seu propósito. “Tem coisas, minha filha, que não são para os médicos. Só a fé pode curar.” Sobre o sucesso que faz, sorri e diz que a busca pela benzeção está voltando ao que já foi um dia. “Nunca vai acabar”, decreta.

Seu Mário tem razão. E está nas mãos dele o primeiro passo para a preservação da tradição em Minas Gerais. No próximo dia 28, a Comunidade dos Arturos, em Contagem, na Grande BH, recebe o título de Patrimônio Imaterial de Minas Gerais, registro dado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). Seu Mário mora lá desde os 10 anos e é o benzedeiro mais conhecido da região, atraindo até mesmo gente de outros lugares do Brasil. Só não benze aos sábados e domingos, e nem à noite. “Se aparecer alguém, até benzo. Não se pode recusar. Mas não gosto. Fins de semana Deus fez para o descanso. Benzer à noite não é bom, não é uma linha boa. Pode ser perigoso”, alerta.

A comunidade dos Arturos, onde vive seu Mário, será a primeira a receber o título do Iepha. Até hoje, como bem imaterial, o instituto tem na lista o modo de fazer queijo da cidade do Serro, na Região Central, e a festa de Nossa Senhora da Chapada do Norte dos Homens de Preto, no Jequitinhonha. “De lugar, esse será o primeiro. Trata-se de um reconhecimento da expressão da comunidade como um todo. Lá, há culinária, Festa do Rosário e a benzeção, que é um ponto forte deles”, comenta o gerente de Patrimônio Imaterial do Iepha/MG, Luís Gustavo Molinaria Mundim. 

Mas isso é só o começo. Desde o ano passado, o instituto está debruçado sobre o projeto de transformar o ato de benzer em Minas em patrimônio imaterial. “Fazíamos um inventário de proteção do Rio São Francisco quando identificamos várias benzedeiras e várias formas de benzer. Percebemos a necessidade de algo maior para o ofício”, diz Luís Gustavo. 

A intenção, segundo ele, é fazer um mapeamento para conhecer quantas são as pessoas que praticam a benzeção, quem são elas e os elementos invocados para a prática. “Queremos conhecer também como isso está sendo passado. O registro é baseado em um patrimônio vivo, ou seja, o benzer tem que estar ocorrendo. Com o registro, vamos identificar quais os principais problemas que essas pessoas enfrentam, e manter projetos para que a prática se mantenha.” 

DESAFIO Essa curiosidade que está nas mãos do Iepha é também a de muitos. Para se ter uma ideia, no dia 16 de março o Bem Viver publicou matéria sobre a inveja e suas consequências. Entre um dos entrevistados, a benzedeira Maria José Limaa comentou sobre a proteção por meio da benzeção. Logo após a reportagem ser publicada, dezenas de pessoas ligaram para a redação em busca do contato da benzedeira e muitos se queixaram de não achar mais o ofício em Belo Horizonte. Houve quem apostou que ele tinha chegado ao fim. Um dos leitores sugeriu: “O Estado de Minas podia procurar esses anjos para nós”.

O Bem Viver  topou o desafio e foi atrás das pessoas das mãos abençoadas. Elas não desapareceram. Fácil, realmente não é. Porém, os benzedeiros e benzedeiras estão vivos e sendo procurados cada vez mais. “Eles têm algo incrível. São reconhecidos nas comunidades onde vivem, acolhem quem os procura e não cobram pelo que fazem. São pessoas boas, a maioria é de baixa renda, e não quer status nem fama. É algo milenar. Há o efeito da contemporaneidade, claro. Mas essas pessoas não vão desaparecer”, aponta o filósofo e professor de ciências da religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), Stephen Simim. Estudioso do assunto, ele dá o caminho para o reencontro com essa bênção: “Se você treinar o seu olhar, vai redescobrir essas mulheres e homens que têm o dom de benzer”.

Fonte:http://sites.correioweb.com.br/app/50,114/2014/04/13/noticia_saudeplena,148287/benzedeiros-carregam-em-si-a-fe-e-as-boas-energias-que-passam-para-out.shtml

Será um dom? »

Não há uma resposta científica que possa explicar o que é ser benzedeiro


Para muitos, uma força superior rege as energias da pessoa para o bem




Espírita, dona Nerci da Conceição é benzedeira há 30 anos e usa em suas benzeções ramos verdes, folhas de arruda e de guiné ao lado de um crucifixo

Uma sabedoria popular que ninguém sabe de onde veio nem para onde vai. Seria um dom ou uma experiência de vida? Não há respostas exatas. O certo é que, segundo os benzedeiros, para benzer não é preciso muito: basta ter o coração aberto e fazer o bem. Muitos, hoje em dia, não são católicos. Adaptaram suas crenças à prática. Assim, quem chega à casa desses anjos, independentemente da religião, percebe que a grande maioria não está em busca de holofotes e benze por acreditar em uma força superior. Dinheiro? “Dá-se de graça o que de graça recebeu”, ensina Nerci da Conceição, de 68 anos, benzedeira na capital há 30 anos. Para a geração que chega, eles aconselham a ter boa vontade, o que pode significar largar um almoço para atender, sem pressa ou preguiça, alguém que precisa ser benzido.

Espírita, Nerci conta que seu dom veio da necessidade. Ela não encontrava benzedeiras na cidade para seus filhos e, assim, começou a benzer. No Bairro Aparecida, na Região Noroeste, ela é bem conhecida e usa a natureza em suas rezas. Há em sua casa ramos verdes, arruda e guiné – plantas que usa para benzer junto do crucifixo. “Antes do rito, gosto de ouvir as pessoas. Tenho até a oração para as doenças desconhecidas. Receito o uso de plantas também. Em casos de problemas de pele, é bom usar pomada recomendada pelo médico e um pouco de enxofre”, diz. Ela benze até mesmo os animais e acredita que há pessoas que atraem o mal, “por isso, benzer é tão importante. Afasta os maus espíritos e abre caminhos”. 

Na linha da umbanda kardecista, a benzedeira Maria Aparecida da Silva, de 64, conta que benze desde os 12 anos e não sabe como aprendeu. Um dos dias mais marcantes para ela foi quando chegou em sua casa uma moça pedindo benzeção. “Não sabia o que tinha, nunca a tinha visto na vida. Veio o meu guia espiritual, que às vezes fala comigo quando preciso, e me pediu para benzê-la na luz. Acendi uma vela”, conta. 

Míriam se diz médium e, durante a entrevista, surpreendeu a reportagem muitas vezes. Segundo ela, é bom benzer com água, para limpar as coisas ruins. “Cada pessoa tem um tipo de vibração”, comenta. Por acreditar nisso, ela pede cuidado com os abraços. “Um abraço mal dado é pior do que uma facada. Quando alguém lhe abraçar, feche os olhos. Aí você barra a energia do outro. Será um espelho para quem abraça você. Existe pior reflexo que o espelho?”, questiona.

Ela faz um alerta também para esse período da quaresma. “É uma época em que espíritos vagam muito facilmente. É preciso cuidado. A benzeção protege você”, comenta. Porém, mesmo defendendo essa proteção, Míriam diz que não se pode ser benzido por qualquer um. “Tenho medo de passar meu conhecimento para alguém. Pode-se benzer tanto para o bem quanto para o mal. O coração dos outros é terra que ninguém morre. Por isso, é preciso cuidado”, avisa. Quando a reportagem pediu a Míriam que fosse fotografada para a matéria, ela informou que as entidades que lhe acompanham não permitiram e pediram a ela que não falasse mais. Respeitamos. 

De acordo com o filósofo Stephen Simim, as adaptações da forma de benzer são muitas, e uma delas está na assimilação de outros elementos e religiões. “Hoje, há no meio evangélico, por exemplo, aquela pessoa que ora pelas outras. É uma irmã de fé muito forte”, exemplifica, lembrando de práticas atuais esotéricas, que muito têm a ver com as benzeções. “Muitas coisas estão surgindo, mas ninguém está inventando. Por isso, não tenho medo de que a prática se perca. Pode haver uma ressignificância.” 

Senso de responsabilidade

Medo, Mário Braz, de 81 anos, também não tem. Há 39 benzendo, ele diz que aprendeu a prática com a irmã benzedeira. “Lembro que zombava tanto dela, e ela um dia me pediu para benzê-la, pois estava com dor de cabeça. Ela sarou na hora e  viu que tinha o dom. Não parei mais”, recorda. Com tanto sucesso, recebendo cerca de 70 pessoas por dia, ele conta que há dias em que está almoçando e chega uma criança para benzer. “Aí tenho que largar o prato. Por isso, digo que não se pode ter preguiça nem má vontade.”


Mário benze as doenças e também os documentos. Uma das perguntas que faz para quem pede sua benzeção é se a pessoa
está desempregada e pede a carteira de motorista. Então, faz suas rezas. Até moça solteira ganha uma oração para se  casar. E não é à toa que as pessoas o procuram todos os dias na comunidade dos Arturos, em Contagem. “Minha mulher está benzendo. Faz escondido de mim, por preconceito”, diverte-se Mário, que diz ter ensinado à mulher a “costurar” coluna. “Quando se está com uma dor na coluna, é bom pegar uma agulha e costurar um novelo. Sara que é uma beleza, só não
pode esquecer a oração”, diz.

Antes de começar a benzeção do dia, das 8h às 17h30, Mário se protege. “É para deixar meu corpo fechado. Funciona. Tenho
uma saúde de ferro”, afirma. Quem o conhece diz que foram poucas as vezes em que ele deixou de benzer, como no dia da
morte da irmã, em que ficou três dias de luto. Como muitas pessoas vão à sua procura, Mário conta que até os médicos da região já o recomendam. “Por isso, digo que as pessoas estão voltando a nos procurar. Antigamente, qualquer coisa que acontecia, ia-se em busca dos doutores. Hoje, eles que estão mandando seus pacientes para as mãos e olhos dos benzedeiros”, diverte-se.

ORAÇÕES

Oração de Santa Catarina


“Minha Santa Catarina, digna que foste, aquela senhora que passou pela porta de Abraão. De dia e de noite, ache seus inimigos tão bravos para mim como leões. Com suas palavras abrandai o coração de meus inimigos. Se tiverem faca para mim há de enrolar como um novelo de linha, será cortada pela corrente de Santa Catarina. Se tiverem arma de fogo para mim será cortada pela corrente de Santa Catarina. Ninguém me enxergará, eu viro em pau e empedra na frente dos meus inimigos. Meus inimigos nunca vão me enxergar para fazeromauamim, está acorrentado pela corrente de Santa Catarina. Há de correr quando me virem, como o judeu correu da cruz. Assim seja. Amém, Jesus.”
Oração criada pela benzedeira Aurora Ferreira dos Santos, de 91 anos. 

“Cruz de Cristo na minha testa, palavra divina na minha boca, hóstia consagrada na minha garganta, menino de Jesus no
meu peito. Aleluia, Aleluia, Aleluia. Custódia me proteja”

Oração que Mário Braz faz antes de benzer. É proteção contra os males, e Custódia, que ele cita, é uma antiga benzedeira da região.

Fonte:http://sites.correioweb.com.br/app/
50,114/2014/04/13/noticia_saudeplena,148289/nao-ha-uma-resposta-cientifica-que-possa-explicar-o-que-e-ser-benzedei.shtmlE escute a oração da benzedeira Maria da Conceição de Souza, de 61 anos: 


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