PAJÉS,RITUAIS E ESPÍRITOS DA CULTURA INDÍGENA YANOMANI

O mundo espiritual indígena

Espiritual: Expressão dos Antepassados


Religião e Mitos

banner sobre mitoA palavra religião é originária do termo latino “religare”, significa a religação entre o homem e um ser divino. As referências sobre a religião dos índios brasileiros estão ligadas aos mitos de cada povo porque os próprios indígenas não usavam a palavra religião.
Eles tinham um conceito diferente do que era se religar a alguma coisa. Na verdade, para os indígenas há uma ligação com a natureza e dela com Deus.
Os mitos seriam histórias com verdades consideradas fundamentais para determinado povo ou grupo que vão caracterizá-las pela importância que eles contém. Também pode ser definido de acordo com o nível de linguagem de um indivíduo ou a forma dele se expressar e contar suas narrativas para o povo. Este, pode fazer desenhos na areia, realizar atos de performance, dançar, cantar, gesticular, tudo isso para melhor visualizar a história.

O Mito nas Sociedades Indígenas

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Os mitos nas sociedades indígenas ensinam algo sobre a história dos povos e o modo de pensar de cada um deles. São capazes de exprimir sentimentos e até mostrar valores e deveres de determinada tribo. Eles precisavam atender necessidades na narrativa desses fatos e primeiro procuravam explicar como era o seu mundo (cosmologia ou teoria de mundo), as regras comportamentais da tribo e a transmissão delas para as futuras gerações.
Com um misto de criatividade entre a imaginação e os objetos do mundo natural que envolve passado, presente e futuro, o índio buscava construir algo que moldasse o mundo, na percepção dele, variando de tribo para tribo e sendo um forte caracterizador de sua identidade. O indígena depende do mundo que o cerca: meio ambiente, os ciclos que regem a natureza e a vida. Um exemplo disso é o surgimento do dia e da noite.

O Nascimento da Noite em Tupi

Um mito Tupi, chamado Tucumã, relata o surgimento da noite: A noite não existia, pois ela estava presa dentro do coco de Tucumã (palmeira) guardado por uma serpente com características humanas e poderes sobrenaturais. Como a filha dessa serpente queria consumar o seu casamento, era necessária a liberação da noite para que ela pudesse se deitar. O esposo dela enviou três índios para buscar o objeto, só que no meio do caminho, eles começaram a escutar ruídos de sapos e grilos e a curiosidade fez com que eles abrissem o fruto.
O dia escureceu e a filha da serpente tentou descobrir um jeito para separar a noite do dia. Quando surgiu a Grande estrela da Madrugada, ela criou o pássaro Cujubim afim dele cantar para nascer a manhã. Após isto, criou o pássaro Inhambu para cantar afim de nascer a tarde até que surgisse a noite, e também fez outros pássaros para animar o dia. Os índios foram amaldiçoados e se transformaram em macacos de boca preta. Além da filha da serpente, todos os seres puderam dormir.

Regras e Costumes Indígenas

Outro fato também são as regras de comportamento que seria aquilo que é moralmente correto para nós. Uma lei específica era usada por diferentes tribos. No caso do ciúme, por exemplo, há um mito que revela que um certo dia as esposas (como se fossem semi deusas) do Sol e da Lua estavam tristes porque seus maridos não tinham ciúmes delas. Assim, buscaram um remédio no pajé para aumentar o ciúme deles, que foi demasiado, fazendo com que o Sol e a Lua demonstrassem através da violência física. Com isso, elas retiram o remédio e o ciúme diminuiu.
Assim essa necessidade foi passada entre gerações, a medida que os indivíduos vão amadurecendo, nas entrelinhas das histórias, conhecem novos segredos que mudam algumas reflexões, conhecimentos e verdades.
Essas verdades são ensinadas para as crianças desde cedo, para que elas possam descobrir um mundo novo. Pelo fato dos mitos já estarem enraizados nos índios é que eles são difíceis de compreender e é necessário conhecer muito da história de determinada tribo.
No decorrer das histórias estes mitos vão se atualizando e representando uma tradição deixada pelos antepassados e estes povos foram por muitas vezes nomeados como "sem cultura". Em muitos mitos encontramos uma semelhança quanto as crenças de diferentes povos como:
  • Um criador (forma humana e do sexo masculino);
  • Um ser sobrenatural criava conhecimentos que eram passados para seres humanos;
  • Todos os seres humanos vem do mesmo criador;
  • O Sol e a Lua (filhos do criador) tinham poderes sobrenaturais e já viveram na forma humana;
  • Existência da vida após a morte;
  • Poderes sobrenaturais;
  • Os animais teriam uma organização social semelhante a dos índios.

Xamanismo e Rituais

banner xamanismoO xamanismo possui um significado amplo. A definição do dicionário Michaelis esclarece o conceito, mas não mostra a complexidade existente.
Ele pode ser um ritual, uma religião, uma crença, uma forma de pensar ou de expressar teorias do mundo. Considerada uma longa filosofia de vida, o termo é antigo e partilhado pela extensão da Ásia até o extremo sul da América. Este sistema ritualístico, nos mostra a existência do “xamã”, ou sacerdotes ligados aos rituais. Sendo uma palavra semelhante a “pajé”, derivada do tupi-guarani são usados como referência para os xamãs.
O xamanismo representa uma base para os autóctones da Ásia e das Américas, sendo este, trazido pelas colonizações. Sobreposto por grandes religiões, como o budismo, o taoísmo, o cristianismo e outras, o xamanismo indígena veio sobrevivendo aos ataques das outras culturas. Até mesmo porque ele passou a ser um estilo de vida que estava presente na vida dos indígenas.
Esse tipo de religião, se é que podemos tratá-la assim, não possui verdades inquestionáveis, mas seria uma forma de conexão que os xamãs fariam para estabelecer uma ligação entre os seres humanos e os espíritos, almas de mortos e de animais que estavam no mundo cósmico. Ao invés de ter algo, um símbolo que os conecte a este mundo, os xamãs vão pessoalmente encontrar com essas entidades.

Um Ritual sem Pajé

Há tribos também que executam o ritual do xamanismo, sem que tenha um pajé ou especialista que estabeleça contato com as entidades. É o caso dos Parakanã do Xingu (região nordeste do estado do Mato Grosso). Pessoas comuns através de sonhos encontram espíritos. Eles levam as músicas que serão cantadas mais tarde na aldeia.
Quando uma pessoa está doente ou em crise, ela pode fazer ligações com o mundo sobrenatural e se renovar (limpam o sangue, os espíritos colocam poderes em seu corpo, aprende-se cânticos). Nesse momento, o índio “empajezou”, enxergando as coisas invisíveis.
De acordo com a cosmologia indígena, há dois mundos, onde uma pessoa é composta por:
  • Corpo, uma carcaça ou pele que proteja as almas;
  • Duas almas ou duplos, uma se tornará fantasma a outra terá um destino único.
Nos sonhos, na ingestão de substâncias psicoativas ou doenças, a alma sai do corpo e anda por vários lugares que os olhos humanos não conseguem ver. E, é a partir daqui que vemos a relação entre o mito e o xamanismo.
Os relatos das histórias dos ameríndios seguem essa cosmologia. Para eles, houve um tempo em que todas as espécies possuíam uma forma humana, até que algo aconteceu, e este fluxo foi interrompido. Animais (por causa de um erro que cometeram no passado) ganharam um corpo de anta, porco e outros bichos, mas continuaram com alma humana.Os humanos são os únicos que ficam com sua alma e a partilha com outras entidades que compõem a “natureza”.

O Homem e o Desequilíbrio com o Cosmos

É comum ouvirmos o termo pajelança nos rituais indígenas de xamanismo. É um termo proveniente da Floresta Amazônica, a pajelança, faz com que um elemento vivo mantenha uma relação com os reinos da natureza (mineral, vegetal e animal), e de acordo com o xamanismo indígena é praticado por curandeiros (pajés).

Este contato que o xamã tenta fazer com seres sobrenaturais muitas vezes é para equilibrar um elo que fora perdido entre os povos e meio (mente e natureza). E, nesse processo há curas, exorcismo, entre outros atos. A crença existente é que as doenças surgem no homem por um desequilíbrio causado por ele e a ordem cósmica (universo) e muitas vezes a doença pode ter sido consequência de uma comportamento errado que o indígena teve.
Há diversos rituais nas várias culturas indígenas, mas o que se destaca em cada uma delas é a forma com que é realizado. Eles fazem o inverso do que acontece nos mitos, não só contam a história em si, mas recontam-na e estabelecem uma comunicação entre todos os seres e entidades. É a partir deles que se estabelece um equilíbrio entre os mundos e é indispensável para formar pessoas e a sociedade. Ele pode ser um ritual:
- De iniciação, onde os iniciantes ou neófitos passam por um estado de liminaridade (transe);
- De guerras entre tribos, onde o ritual acontece desde o momento de confecção das armas (os índios cantam e realizam procedimentos específicos);
- Relacionado a vida social: casamento, funerais, cultos aos deuses, cura de doenças, manutenção da saúde;
- Relacionados aos fenômenos da natureza.
Em muitos desses rituais são invocados deuses que constituem diferentes tipos de elementos da natureza como: animais, ar, fogo, terra, objetos ligados a astronomia, etc. Nestes são celebrados as diferenças entre o mundo natural e o sobrenatural e entre as diferenças existentes entre os seres humanos.

O Ritual Kuarup

Um exemplo de ritual é a cerimônia conhecida como Kuarup. Um ritual das tribos de origem Tupi habitantes do Parque do Xingu. Instituído pelo deus Mavutsinim para ressuscitar os mortos, ao longo do ritual, os mortos iam se transformando em humanos através de troncos de madeira que os representavam. Só que com uma quebra na magia do ritual os troncos não puderam se transformar mais em pessoas.
Isso aconteceu porque um índio que havia tido relações sexuais resolveu espiar o ritual, mesmo sendo proibido pelo deus. Mavutsinim, revoltado com a desobediência decidiu que os mortos não voltariam mais a vida e que somente seria comemorada a cerimônia. Nota-se que para eles havia vida após a morte e que ela não era o fim. Para estes povos, mesmo não existindo uma escrita, através de rituais, mitos, elementos da natureza, acessórios para o corpo, e outros, é que existe pessoas especialistas (pajé) que tem a sensibilidade de enxergar através da natureza o mundo que gira ao seu redor.
desenho pajé

Mas que figura curiosa é essa do pajé?
É um líder espiritual e curandeiro que tem uma importância fundamental nas tribos. Geralmente por ser mais velho, é também um homem dotado de conhecimento e da história da tribo. É ele que irá passar toda a cultura, costumes e história para as outras gerações. Sendo chamado de curandeiro em algumas tribos, ele que vai direcionar os rituais, ervas e plantas no trato de algumas doenças.
Como líder espiritual, é ele que será o xamã, ou aquela pessoa responsável por entrar em contato com os espíritos e deuses que protegem determinada tribo e de possuir poderes sobrenaturais.
Já o cacique não entra na definição acima. Ele é o chefe político que cuida dos negócios da tribo e em cada uma delas recebe denominações diferentes. Ex.: Os tupis o chamavam de moruxaua.
Fonte:http://indios-brasileiros.info/cultura-indigena/o-mundo-espiritual-indigena.html

A organização social dos índios

Entre os indígenas não há classes sociais como a do homem branco. Todos têm os mesmo direitos e recebem o mesmo tratamento. A terra, por exemplo, pertence a todos e quando um índio caça, costuma dividir com os habitantes de sua tribo. Apenas os instrumentos de trabalho (machado, arcos, flechas, arpões) são de propriedade individual. O trabalho na tribo é realizado por todos, porém possui uma divisão por sexo e idade. As mulheres são responsáveis pela comida, crianças, colheita e plantio. Já os homens da tribo ficam encarregados do trabalho mais pesado: caça, pesca, guerra e derrubada das árvores.
A formação social era bastante simples, as aldeias não tinham grandes concentrações populacionais e as atividades eram exercidas de forma coletiva. O índio que caçasse ou pescasse mais dividia seu alimento com os outros.
A coletividade era uma característica marcante entre os índios. Suas cabanas eram divididas entre vários casais e seus filhos, como não havia classes sociais, até mesmo o chefe da tribo dividia sua cabana.
Duas figuras importantes na organização das tribos são o pajé e o cacique. O pajé é o sacerdote da tribo, pois conhece todos os rituais e recebe as mensagens dos deuses. Ele também é o curandeiro, pois conhece todos os chás e ervas para curar doenças. Ele que faz o ritual da pajelança, onde evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura. O cacique, também importante na vida tribal, faz o papel de chefe, pois organiza e orienta os índios.
A educação indígena é bem interessante. Os pequenos índios, conhecidos como curumins, aprender desde pequenos e de forma prática. Costumam observar o que os adultos fazem e vão treinando desde cedo. Quando o pai vai caçar, costuma levar o índiozinho junto para que este aprender. Portanto a educação indígena é bem pratica e vinculada a realidade da vida da tribo indígena. Quando atinge os 13 os 14 anos, o jovem passa por um teste e uma cerimônia para ingressar na vida adulta.
 
Os contatos entre indígenas e portugueses
Como dissemos, os primeiros contatos foram de estranheza e de certa admiração e respeito. Caminha relata a troca de sinais, presentes e informações. Quando os portugueses começam a explorar o pau-brasil das matas, começam a escravizar muitos indígenas ou a utilizar o escambo. Davam espelhos, apitos, colares e chocalhos para os indígenas em troca de seu trabalho. 
O canto que se segue foi muito prejudicial aos povos indígenas. Interessados nas terras, os portugueses usaram a violência contra os índios. Para tomar as terras, chegavam a matar os nativos ou até mesmo transmitir doenças a eles para dizimar tribos e tomar as terras. Esse comportamento violento seguiu-se por séculos, resultando no pequenos número de índios que temos hoje.
A visão que o europeu tinha a respeito dos índios era eurocêntrica. Os portugueses achavam-se superiores aos indígenas e, portanto, deveriam dominá-los e colocá-los ao seu serviço. A cultura indígena era considera pelo europeu como sendo inferior e grosseira. Dentro desta visão, acreditavam que sua função era convertê-los ao cristianismo e fazer os índios seguirem a cultura européia. Foi assim, que aos poucos, os índios foram perdendo sua cultura e também sua identidade.

Rituais indígenas

 
Tupinambás praticando um ritual de canibalismo
Algumas tribos eram canibais como, por exemplo, os tupinambás que habitavam o litoral da região sudeste do Brasil. A antropofagia era praticada, pois acreditavam que ao comerem carne humana do inimigo estariam incorporando a sabedoria, valentia e conhecimentos. Desta forma, não se alimentavam da carne de pessoas fracas ou covardes.

Religião

Cada nação indígena possuía crenças e rituais religiosos diferenciados. Porém, todas as tribos acreditavam nas forças da natureza e nos espíritos dos antepassados. Para estes deuses e espíritos, faziam rituais, cerimônias e festas. O pajé era o responsável por transmitir estes conhecimentos aos habitantes da tribo. Algumas tribos colocavam os corpos dos índios em grandes vasos de cerâmica, onde além do cadáver ficavam os seus objetos pessoais. Isto demonstra que estas tribos acreditavam na vida após a morte.

Principais etnias indígenas brasileiras na atualidade e população estimada

Ticuna (35.000), Guarani (30.000), Caiagangue ou Caigangue (25.000), Macuxi (20.000), Terena (16.000), Guajajara (14.000), Xavante (12.000), Ianomâmi (12.000), Pataxó (9.700), Potiguara (7.700).
Fonte: Funai (Fundação Nacional do Índio).

Localização das tribos indígenas no território brasileiro


Povos Indígenas mais conhecidos do Brasil

Aimoré: grupo não-tupi, também chamado de botocudo, vivia do sul da Bahia ao norte do Espírito Santo. Grandes corredores e guerreiros temíveis, foram os responsáveis pelo fracasso das capitanias de Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo. Só foram vencidos no início do Século XX.
Avá-Canoeiro: povo da família Tupi-Guarani que vivia entre os rios Formoso e Javarés, em Goiás. Em 1973, foram pegos "a laço" por uma equipe chefiada por Apoena Meireles, e transferidos para o Parque Indígena do Araguaia (Ilha do Bananal) e colocados ao lado de seus maiores inimigos históricos, os Javaé.
Bororós: também chamados Coroados ou Porrudos e autodenominados Boe. Os Bororós Ocidentais, extintos no fim do século passado, viviam na margem leste do rio Paraguai, onde, no início do Séc. XVII, os jesuítas espanh óis fundaram várias aldeias de missões. Muito amigáveis, serviam de guia aos brancos, trabalhavam nas fazendas da região e eram aliados dos bandeirantes. Desapareceram como povo, tanto pelas moléstias contraídas, quanto pelos casamentos com não-índios.
Caeté: os deglutidores do bispo Sardinha viviam desde a Ilha de Itamaracá até as margens do Rio São Francisco. Depois de comerem o bispo, foram considerados "inimigos da civilização". Em 1562, Men de Sá determinou que fossem "escravizados todos, sem exceção".
Caiapós: explorando a riqueza existente nos 3,3 milhões de hectares de sua reserva no sul do Pará (especialmente o mogno e o ouro), os caiapós viraram os índios mais ricos do Brasil. Movimentaram cerca de U$$15 milhões por ano, derrubando, em média, 20 árvores de mogno por dia e extraindo 6 mil litros anuais de óleo de castanha. Quem iniciou a expansão capitalista dos caiapós foi o controvertido cacique Tutu Pompo (morto em 1994). Para isso destituiu o lendário Raoni e enfrentou a oposição de outro caiapó, Paulinho Paiakan.
Carijó: seu território estendia-se de Cananéia (SP) até a Lagoa dos Patos (RS). Vistos como "o melhor gentio da costa", foram receptivos à catequese. Isso não impediu sua escravização em massa por parte dos colonos de São Vicente.
Goitacá: ocupavam a foz do Rio Paraíba. Tidos como os índios mais selvagens e cruéis do Brasil, encheram os portugueses de terror. Grandes canibais e intrépidos pescadores de tubarão. Eram cerca de 12 mil.
Ianomâmi: povo constituído por diversos grupos cujas línguas pertencem à mesma família. Denominada anteriormente Xiriâna, Xirianá e Waiká.

Características das línguas e dos grupos indígenas que as falam.

Tupi: Os grupos indígenas de língua tupi eram as tribos tamoio, guarani, tupiniquim, tabajara etc. Todas essas tribos se encontravam na parte litorânea brasileira, foram os primeiros índios a ter contato com os portugueses que aqui chegaram. 
Essas tribos eram especialistas em caça, eram ótimos pescadores, além de desenvolver bem a coleta de frutos.

Macro-jê:Raramente eram encontrados no litoral, com exceção de algumas tribos na serra do mar, eles eram encontrados principalmente no planalto central, neste contexto destacavam-se as tribos ou grupos: timbira, aimoré, goitacaz, carijó, carajá, bororó e botocudo.

Esses grupos indígenas viviam nas proximidades das nascentes de córregos e rios, viviam basicamente da coleta de frutos e raízes e da caça. Esses grupos só vieram ter contato com os brancos no século XVII, quando os colonizadores adentraram no interior do país.

Karib: Grupos indígenas que habitavam a região onde hoje compreende os estados do Amapá e Roraima, chamada também de baixo amazonas, as principais tribos são os atroari e vaimiri, esses eram muito agressivos e antropofágicos, isso significa que quando os índios derrotavam seus inimigos, eles os comiam acreditando que com isso poderiam absorver as qualidades daqueles que foram derrotados.
O contato dessas tribos com os brancos ocorreu no século XVII, com as missões religiosas e a dispersão do exército pelo território.

Aruak: Suas principais tribos eram aruã, pareci, cunibó, guaná e terena, estavam situados em algumas regiões da Amazônia e na ilha de Marajó, a principal atividade era os artesanatos cerâmicos. 

Curiosidades

De acordo com suas necessidades de sobrevivência, os índios produziam material de preparo alimentício, caça, pesca, vestimenta, realizavam festas culturais e comemorativas, construíam abrigo e transporte com materiais tirados da natureza, sem prejudicá-la.
Os índios produziam vários artesanatos, como:
  • Flecha e arco para caça e pesca
  • Ralo para ralar mandioca
  • Tipiti para espremer a massa da mandioca
  • Balaios e Urutus para guardar a massa, farinha, tapioca, beiju, frutas entre outros
  • Peneira para peneirar a massa seca para fazer farinha e beiju, tapioca ou curadá
  • Cumatá especial para tirar goma de massa
  • Abano para virar e tirar o beiju do forno feito de argila
  • Bancos
  • Pilão para moer a carne cozida, peixe moqueado, pimenta e outros sempre torrados
  • Pulseiras
  • Anéis de caroço de tucumã
  • Cesto e Peneira de cipó para carregar e guardar mantimento
  • Zarabatana para caça especial de aves
  • Japurutu, Cariçu e Flauta, instrumentos musicais entre outros cada um com seu específico som harmonioso
  • Cerâmicas para fazer pratos, panelas, botija de cerâmica para fabricação de bebidas alcoólicas especiais e outros ornamentos para momentos de festas.

Legislação

A Constituição Federal promulgada em 1988 é a primeira a trazer um capítulo sobre os povos indígenas. Reconhece os "direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam". Eles não são proprietários dessas terras que pertencem à União, mas têm garantido o usufruto das riquezas do solo e dos rios.
A diversidade étnica é reconhecida, bem como a necessidade de respeitá-la. É revogada a disposição do Código Civil que considerava o índio um indivíduo incapaz, que precisava da proteção do Estado até se integrar ao modo de vida do restante da sociedade.

Fonte:http://www.sohistoria.com.br/ef2/indios/p1.php



Os Yanomami e sua terra

Localização
Noroeste de Roraima, norte do Amazonas e sul da Venezuela
População
Brasil - 11.611
Venezuela - 12.000
Línguas
Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninan
População e comunidades atendidas pela URIHI
5.364 Yanomami, distribuídos em 96 comunidades

por Bruce Albert

Os Yanomami formam uma sociedade de caçadores-agricultores da floresta tropical do Norte da Amazônia cujo contato com a sociedade nacional é, na maior parte do seu território, relativamente recente. Seu território cobre, aproximadamente, 192.000 km², situados em ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela na região do interflúvio Orinoco - Amazonas (afluentes da margem direita do rio Branco e esquerda do rio Negro). Constituem um conjunto cultural e lingüístico composto de, pelo menos, quatro subgrupos adjacentes que falam línguas da mesma família (Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninam). A população total dos Yanomami, no Brasil e na Venezuela, é hoje estimada em cerca de 26.000 pessoas.
No Brasil, a população yanomami é de 12.795 pessoas, repartidas em 228 comunidades (censo da Fundação Nacional de Saúde de 1999). A Terra Indígena Yanomami, que cobre 9.664.975 ha (96.650 km²) de floresta tropical é reconhecida por sua alta relevância em termo de proteção da biodiversidade amazônica e foi homologada por um decreto presidencial em 25 de maio de 1992.
Foto: Rogério Duarte do Pateo
O nome "Yanomami"

O etnônimo "Yanomami" foi produzido pelos antropólogos a partir da palavra yanõmami que, na expressão yanõmami thëpë, significa "seres humanos". Essa expressão se opõe às categorias yaro (animais de caça) e yai (seres invisíveis ou sem nome), mas também a napë (inimigo, estrangeiro, "branco"). Os Yanomami remetem sua origem à copulação do demiurgo Omama com a filha do monstro aquático Tëpërësiki, dono das plantas cultivadas. A Omama é atribuída a origem das regras da sociedade e da cultura yanomami atual, bem como a criação dos espíritos auxiliares dos pajés: os xapiripë (ou hekurapë). O filho de Omama foi o primeiro xamã. O irmão ciumento e malvado de Omama, Yoasi, é a origem da morte e dos males do mundo.
Os brancos: napëpë

Uma narrativa mítica ensina que os estrangeiros devem também sua existência aos poderes demiúrgicos de Omama. Conta-se que foram criados a partir da espuma do sangue de um grupo de ancestrais Yanomami levado por uma enchente após a quebra de um resguardo menstrual e devorado por jacarés e ariranhas. A língua "emaranhada" dos forasteiros lhes foi transmitida pelo zumbido de Remori, o antepassado mítico do marimbondo comum nas praias dos grandes rios.
Para chegar a esta inclusão dos brancos numa humanidade comum, ainda que oriunda de uma criação "de segunda mão", os antigos Yanomami tiveram que viver um longo tempo de encontros perigosos e tensos com esses estranhos, que passaram a chamar de napëpë ("estrangeiros, inimigos"). De fato, a primeira visão que tiveram dos brancos foi de um grupo de fantasmas vindo de suas moradias nas "costas do céu" com o escandaloso propósito de voltar a morar no mundo dos vivos (a volta dos mortos é um tema mítico e ritual particularmente importante para os Yanomami).
Os antigos Yanomami
Por não possuírem afinidade genética, antropométrica ou lingüística com os seus vizinhos atuais, como os Ye'kuana (de língua karib), geneticistas e lingüistas que os estudaram deduziram que os Yanomami seriam descendentes de um grupo indígena que permaneceu relativamente isolado desde uma época remota. Uma vez estabelecido enquanto conjunto lingüístico, os antigos Yanomami teriam ocupado a área das cabeceiras do Orinoco e Parima há um milênio, e ali iniciado o seu processo de diferenciação interna (há 700 anos) para acabar desenvolvendo suas línguas atuais.
Segundo a tradição oral yanomami e os documentos mais antigos que mencionam este grupo indígena, o centro histórico do seu habitat situa-se na Serra Parima, divisor de águas entre o alto Orinoco e os afluentes da margem direita do rio Branco. Essa é ainda a área mais densamente povoada do seu território. O movimento de dispersão do povoamento yanomami a partir da Serra Parima em direção às terras baixas circunvizinhas começou, provavelmente, na primeira metade do século XIX, após a penetração colonial nas regiões do alto Orinoco e dos rios Negro e Branco, na segunda metade do século XVIII. A configuração contemporânea das terras yanomami tem sua origem neste antigo movimento migratório.
Tal expansão geográfica dos Yanomami foi possível, a partir do século XIX e até o começo do século XX, por um importante crescimento demográfico. Vários antropólogos consideram que essa expansão populacional foi causada por transformações econômicas induzidas pela aquisição de novas plantas de cultivo e de ferramentas metálicas através de trocas e guerras com grupos indígenas vizinhos (Karib, ao norte e a leste; Arawak, ao sul e ao oeste), que, por sua vez, mantinham um contato direto com a fronteira branca. O esvaziamento progressivo do território desses grupos, dizimados pelo contato com a sociedade regional por todo o século XIX, acabou favorecendo também o processo de expansão yanomami.

Primeiros contatos

Até o fim do século XIX, portanto, os Yanomami mantinham contato apenas com outros grupos indígenas vizinhos. No Brasil, os primeiros encontros diretos de grupos yanomami com representantes da fronteira extrativista local (balateiros, piaçabeiros, caçadores), bem como com soldados da Comissão de Limites e funcionários do SPI ou viajantes estrangeiros, ocorreram nas décadas de 1910 a 1940. Entre os anos 1940 e meados dos anos 1960, a abertura de alguns postos do SPI e, sobretudo, de várias missões católicas e evangélicas, estabeleceu os primeiros pontos de contato permanente no seu território. Estes postos constituíram uma rede de pólos de sedentarização, fonte regular de objetos manufaturados e de alguma assistência sanitária, mas também, muitas vezes, origem de graves surtos epidêmicos (sarampo, gripe e coqueluche).

O tempo do "desenvolvimento"

Nas décadas de 1970 e 1980, os projetos de desenvolvimento do Estado começaram a submeter os Yanomami a formas de contato maciço com a fronteira econômica regional em expansão, principalmente no oeste de Roraima: estradas, projetos de colonização, fazendas, serrarias, canteiros de obras e primeiros garimpos. Esses contatos provocaram um choque epidemiológico de grande magnitude, causando altas perdas demográficas, uma degradação sanitária generalizada e, em algumas áreas, graves fenômenos de desestruturação social.

A estrada Perimetral Norte

As duas principais formas de contato inicialmente conhecidas pelos Yanomami - primeiro, com a fronteira extrativista e, depois, com a fronteira missionária - coexistiram até o início dos anos 1970 como uma associação dominante no seu território. Entretanto, os anos 1970 foram marcados (especialmente em Roraima) pela implantação de projetos de desenvolvimento no âmbito do "Plano de Integração Nacional" lançado pelos governos militares da época. Tratava-se, essencialmente, da abertura de um trecho da estrada Perimetral Norte (1973-76) e de programas de colonização pública (1978-79) que invadiram o sudeste das terras yanomami. Nesse mesmo período, o projeto de levantamento dos recursos amazônicos RADAM (1975) detectou a existência de importantes jazidas minerais na região. A publicidade dada ao potencial mineral do território yanomami desencadeou um movimento progressivo de invasão garimpeira, que acabou agravando-se no final dos anos 1980 e tomou a forma, a partir de 1987, de uma verdadeira corrida do ouro.

A corrida do ouro

Uma centena de pistas clandestinas de garimpo foi aberta no curso superior dos principais afluentes do Rio Branco entre 1987 e 1990. O número de garimpeiros na área yanomami de Roraima foi, então, estimado em 30 a 40.000, cerca de cinco vezes a população indígena ali residente. Embora a intensidade dessa corrida do ouro tenha diminuído muito a partir do começo dos anos 1990, até hoje núcleos de garimpagem continuam encravados na terra yanomami, de onde seguem espalhando violência e graves problemas sanitários e sociais.

Ameaças futuras?

A frente de expansão garimpeira tendeu, no fim da década de 1980, a suplantar as formas anteriores de contato dos Yanomami com a sociedade envolvente e até a relegar a segundo plano a fronteira dos projetos de desenvolvimento surgida nos anos 1970.
Isto não significa, no entanto, que outras atividades econômicas (agricultura comercial, empreendimentos madeireiros e agropecuários, mineração industrial), ainda incipientes ou inexistentes, não possam constituir, no futuro, uma nova ameaça à integridade das terras yanomami, apesar de sua demarcação e homologação.
Assim, além do persistente interesse garimpeiro sobre a região, deve-se notar que quase 60% do território yanomami está coberto por requerimentos e títulos minerários registrados no Departamento Nacional de Produção Mineral por empresas de mineração públicas e privadas, nacionais e multinacionais.
Além disso, os projetos de colonização implementados nas décadas de 1970 e 1980 no leste e sudeste das terras yanomami criaram uma frente de povoamento que tende a expandir-se para dentro da área indígena (regiões de Ajarani e Apiaú) devido ao fluxo migratório direcionado para Roraima - tendência que poderá ser ampliada no futuro em conseqüência do apagamento dos limites da demarcação por um mega-incêndio que atingiu Roraima no começo de 1998.
Enfim, três bases militares do "Projeto Calha Norte" foram implementadas na Terra Yanomami desde 1985 (Pelotões Especiais de Fronteira/ PEF de Maturacá, Surucucus e Auaris, um quarto está previsto na região de Ericó), induzindo graves problemas sociais (prostituição) nas população locais, o que já suscitou protestos de lideranças yanomami de Roraima.
A casa/aldeia
Os grupos locais yanomami são geralmente constituídos por uma casa plurifamiliar em forma de cone ou de cone truncado chamado yano ou xapono (Yanomami orientais e ocidentais), ou por aldeias compostas de casas de tipos retangulares (Yanomami do norte e nordeste).
Cada casa coletiva ou aldeia considera-se como uma entidade econômica e política autônoma (kami theri yamaki, "nós co-residentes") e seus membros preferem, idealmente, casar-se nesta comunidade de parentes com um(a) primo(a) "cruzado(a)", ou seja, o(a) filho(a) de um tio materno e uma tia paterna. Esse tipo de casamento é reproduzido o quanto possível entre as famílias numa geração e de geração em geração, fazendo da casa coletiva ou aldeia yanomami um denso e confortável emaranhado de laços de consangüinidade e afinidade.

O espaço social inter-aldeão

Porém, apesar desse ideal autárquico, todos grupos locais mantêm uma rede de relações de troca matrimonial, cerimonial e econômica com vários grupos vizinhos, considerados aliados frente aos outros conjuntos multicomunitários da mesma natureza. Esses conjuntos superpõem-se parcialmente para formar uma malha sócio-política complexa, que liga a totalidade das casas coletivas e aldeias yanomami de um lado ao outro do território indígena.
O espaço social fora da casa coletiva ou da aldeia, consideradas como mônadas de parentesco próximo, é tido com desconfiança como o universo perigoso dos "outros" (yaiyo thëpë): visitantes (hwamapë), que, nas grandes cerimônias funerárias e de aliança intercomunitária reahu, podem causar doenças usando de feitiçaria para se vingar de insultos, avareza ou ciúme sexual; inimigos (napë thëpë), que podem matar, atacando a aldeia como guerreiros (waipë) ou feiticeiros (okapë); gente desconhecida e longínqua (tanomai thëpë), que pode provocar doenças letais mandando espíritos xamânicos predadores ou caçar o duplo animal rixi das pessoas (os rixi vivem nas matas remotas, longe de seu duplo humano); enfim, os "brancos" (napëpë), categoria paradoxal de estrangeiros (inimigos potenciais) próximos, diante dos quais temem-se as epidemias (xawara) associadas às fumaças produzidas por suas "máquinas" (maquinários de garimpo, motores de aviões e helicópteros) e à queima de suas possessões (mercúrio e ouro, papéis, lonas e lixo).

O uso dos recursos

O espaço de floresta usado por cada casa-aldeia yanomami pode ser descrito esquematicamente como uma série de círculos concêntricos. Esses círculos delimitam áreas de uso de modos e intensidade distintos.
O primeiro círculo, num raio de cinco quilômetros, circunscreve a área de uso imediato da comunidade: pequena coleta feminina, pesca individual ou, no verão, pesca coletiva com timbó, caça ocasional de curta duração (ao amanhecer ou ao entardecer) e atividades agrícolas. O segundo círculo, num raio de cinco a dez quilômetros, é a área de caça individual (rama huu) e da coleta familiar do dia-a-dia.
O terceiro círculo, num raio de dez a vinte quilômetros, é a área das expedições de caça coletivas (henimou) de uma a duas semanas que antecedem os rituais funerários (cremações dos ossos, enterros ou ingestões de cinzas nas cerimônias intercomunitárias reahu), bem como das longas expedições plurifamiliares de coleta e caça (três a seis semanas) durante a fase de maturação das novas roças (waima huu). Encontram-se também nesse "terceiro círculo" tanto as roças novas quanto as antigas, junto às quais se acampa esporadicamente - para cultivar nas primeiras, colher nas segundas - e em cujos arredores a caça é abundante.
Os Yanomami costumavam passar entre um terço e quase a metade do ano acampados em abrigos provisórios (naa nahipë) em diferentes locais dessa área de floresta mais afastada da sua casa coletiva ou aldeia. Esse tempo de vida na floresta tende a diminuir quando se estabelecem relações de contato regular com os brancos, dos quais os Yanomami ficam dependentes para ter acesso a remédios e mercadorias.

Urihi, a terra-floresta

A palavra yanomami urihi designa a floresta e seu chão. Significa também território: ipa urihi, "minha terra", pode referir-se à região de nascimento ou à região de moradia atual do enunciador; yanomae thëpë urihipë, "a floresta dos seres humanos", é a mata que Omama deu para os Yanomami viverem de geração em geração; seria, em nossas palavras, "a terra yanomami". Urihi pode ser, também, o nome do mundo: urihi a pree, "a grande terra-floresta".

Uma geografia cosmológica

Fonte de recursos, urihi, a terra-floresta, não é, para os Yanomami, um simples cenário inerte submetido à vontade dos seres humanos. Entidade viva, ela tem uma imagem essencial (urihinari), um sopro (wixia), bem como um princípio imaterial de fertilidade (në rope).
Os animais (yaropë) que abriga são vistos como avatares dos antepassados míticos homens/animais da primeira humanidade (yaroripë) que acabaram assumindo a condição animal em razão do seu comportamento descontrolado, iinversão das regras sociais atuais. Nas profundezas emaranhadas da urihi, nas suas colinas e nos seus rios, escondem-se inúmeros seres maléficos (në waripë), que ferem ou matam os Yanomami como se fossem caça, provocando doenças e mortes. No topo das montanhas, moram as imagens (utupë) dos ancestrais-animais transformadas em espíritos xamânicos xapiripë.
Os xapiripë foram deixados por Omama para que cuidassem dos humanos. Toda a extensão de urihi é coberta pelos seus espelhos onde brincam e dançam sem fim. No fundo das águas, esconde-se a casa do monstro Tëpërësik", sogro de Omama, onde moram também os espíritos yawarioma, cujas irmãs seduzem e enlouquecem os jovens caçadores yanomami, dando-lhes, assim, acesso à carreira xamânica.

Os espíritos xapiripë

A iniciação dos pajés é dolorosa e extática. Ao longo dela, inalando por muitos dias o pó alucinógeno yãkõana (resina ou fragmentos da casca interna da árvore Virola sp. secados e pulverizados) sob a condução dos mais antigos, aprendem a "ver/ conhecer" os espíritos xapiripë e a "responder" a seus cantos.
Os xapiripë são vistos sob a forma de miniaturas humanóides enfeitadas de ornamentos cerimoniais coloridos e brilhantes. Sua dança de apresentação é comparada à ruidosa e alegre chegada de grupos convidados, ricamente adornados, numa festa intercomunitária reahu. São, sobretudo, "imagens" xamânicas (utupë) de entes da floresta. Existem xapiripë de mamíferos, pássaros, peixes, batráquios, répteis, lagartos, quelônios, crustáceos e insetos. Existem espíritos de diversas árvores, espíritos das folhas, espíritos dos cipós, dos méis silvestres, da água, das pedras, das cachoeiras… Muitos são também "imagens" de entidades cósmicas (lua, sol, tempestade, trovão, relâmpago) e de personagens mitológicas. Existem também humildes xapiripë caseiros, como o espírito do cachorro, o espírito do fogo ou da panela de barro. Existem, enfim, espíritos dos "brancos" (os napënapëripë, mobilizados, por homeopatia simbólica, para combater as epidemias) e de seus animais domésticos (galinha, boi, cavalo).

O trabalho dos pajés

Uma vez iniciados, os pajés yanomami podem chamar até si os xapiripë, para que estes atuem como espíritos auxiliares. Esse poder de conhecimento/ visão e de comunicação com o mundo das "imagens/essencias vitais" (utupë) faz dos pajés os pilares da sociedade yanomami. Escudo contra os poderes maléficos oriundos dos humanos e dos não-humanos que ameaçam a vida dos membros de suas comunidades, eles são também incansáveis negociadores e guerreiros do invisível, dedicados a domar as entidades e as forças que movem a ordem cosmológica.
Controlam a fúria dos trovões e dos ventos de tempestade, a regularidade da alternância do dia e da noite, da seca e das chuvas, a abundância da caça, a fertilidade das plantações, sustentam a abóbada do céu para impedir sua queda (a terra atual é um antigo céu caído), afastam os predadores sobrenaturais da floresta, contra-atacam as investidas de espíritos agressivos de pajés inimigos e, principalmente, curam os doentes, vítimas da malevolência humana (feitiçarias, xamanismo agressivo, agressões ao duplo animal) ou não-humana (advinda dos seres maléficos në waripë).

Ver os espíritos xapiripë

Para desenvolver suas sessões, os pajés inalam o pó yãkõana, considerado como a comida dos espíritos. Sob seu efeito, dizem "morrer": entram num estado de transe visionário durante o qual "chamam" a si e "fazem descer" vários espíritos auxiliares, com os quais acabam identificando-se, imitando as coreografias e cantos de cada um em função da sua mobilização na pajelança (denignam-se os pajés como xapiri thëpë, "gente espírito"; o fazer pajelança diz-se xapirimu, "agir enquanto espírito"). Assim, quando "seus olhos morrem", os pajés adquirem uma visão/ poder que, ao contrário da percepção ilusória da "gente comum" (kua përa thëpë), lhes dá acesso à essência dos fenômenos e ao tempo de suas origens, portanto, à capacidade de modificar seu curso.

Fonte:http://www.urihi.org.br/siteoriginal/yanomami.htm

         
David J. Phillips
Os Yanomami: O povo Yanomami é divido em quatro ou cinco grupos linguísticos: 11.700 de todos os grupos no Brasil em 228 comunidades (ISA (2000).
Noroeste: Sanumá 1,800 no Brasil (2006 D. Borgman) 500 (DAI/AMTB 2010) Roraima e Amazonas. Veja o perfil separado.
Nordeste: Ninam 470 em Roraima, Brasil (1976 UFM)= Yanam 600 (DAI/AMTB)
Sudeste: Yanomam (Outros nomes: Waica, Ianonawá, Yanomamé, Xurima, Parahuri, Yanoam, Ianoamo, Ianomami, Xirianá). Em Roraima e no Amazonas. 15.682 no Brasil, 15.193 na Venezuela (DAI/AMTB 2010). Também os Aica, um grupo dos Yanomam, no rio Apiau (Peters 1998.22).
Sudoeste: Yanomamö no Brasil e na Venezuela. Este perfil trata deste grupo. O nome é escrito atualmente Yanomanɨ (Poleto 2012).
Autodenominação: Eles se identificam como Yanomami e mais preciso o nome da sua aldeia com o sufixo -teri (povo). Yanomami é derivado de yanõmami thëpë que significa 'seres humanos' distinguido de yaro (animais de caça), yai (os espíritos) e os napë (os brancos, inimigos, alheios).
Outros Nomes: Guaharibo, Guaica, Shaathari, Shamatri, Yanomami (SIL).
População: 1.940 in Brasil. Amazonas, na afluentes da margem esquerda do rio Negro (SIL). Brasil: 2.200 (DAI/AMTB 2010). Venezuela: 15.700 (2000). Total nos dois países: 17,640 (SIL). Em 1964 e 1968: 10.000 em 125 comunidades de entre 40 e 250 habitantes (Chagnon 1968.1). As fontes não distinguem bem entre os grupos."Os dados populacionais Yanomami não são exatos, tanto no Brasil como na Venezuela, mas é possível estimar uma população total acima de 35 mil pessoas (SESAI, 2011 apud Albert, 2013)." (Poleto 2013). Na Venezuela (1992) 15.193 em 150 comunidades. No Brasil 11.000. Mas transitam a fronteira constantemente (Chernela et. al. 2002.13). No Brasil e na Venezuela era estimada em cerca de 35.000 pessoas no ano de 2011 (ISA).
Localização: Habitam uma região de serras ao norte da Floresta Amazônica, na fronteira do Brasil com a Venezuela. No lado brasileiro o território Yanomami se estende pelo norte do Estado do Amazonas e oeste de Roraima, sendo este a maior Terra Indígena demarcada no Brasil No norte na Venezuela na cabeceiras do rio Orinoco; na bacia do rio Siapa e no Brasil nos afluentes do rio Negro nos rios Cauaburi, Marauiá, Demiri, Aracá e Padauarí. No rio Marauiá vivem cinco grupos principais em dez aldeias (MNTB).
A Terra Indígena Yanomami está situada na fronteira com a Venezuela e das cabeceiras dos rios Marauía e Cauburis no oeste e o rio Demení no leste no Amazonas e o território do oeste em Roraima. É de 9.664.975 hectares (96.650 km²). Foi homologada em maio 1992 (Albert 1999) e se sobrepõe ao território de oito municípios: Barcelos, AM: 12.247.573 ha, Santa Isabel do Rio Negro, AM: 6.284.624 ha, São Gabriel da Cachoeira, AM: 10.918.490 ha, Amajari, RR: 2.847.222 ha, Alto Alegre, RR: 2.556.685 ha, Caracaraí, RR: 4.741.089 ha, Iracema, RR: 1.411.941 ha, Mucajaí, RR: 1.275.12 ha.
Língua: "Os Yanomami são reconhecidos como uma única etnia composta por quatro subgrupos linguísticos, que compõe uma família linguística isolada (RAMOS, 1990; MATTEI-MULLER, 2007). Ramirez (1999; 1994) identificou quatorze dialetos desta família e propôs o agrupamento destes em quatro principais línguas: Yanomamɨ, Yanomam (ou Yanomae), Sanuma e Ninam (ou Yanam)." (Poleto, 2013)
Yanomamɨ na região dos rios Cauaburi, Marauiá, etc.
Na região do alto Orinoco e Mavaca falam o dialeto leste na Serra Parima e para o leste do rio Batau. O dialeto oeste se fala na bacia do rio Padamo, Ocamo, Manaviche e cabeceiras do Orinoco, no rio Cauaburi. A análise linguística do dialeto Xamatali e Xirianá foi feita pela Missão Evangélica da Amazônia e a Missão Novas tribos fez a análise fenomênica. Tradições de porções do Ensino Cronológico da Bíblia, Dicionário e hinário. Preparados estão Cartilhas de pré-escolar e alfabetização, e Manuais de orientação sobre a malária e a saúde (MNTB).
História: Os Yanomami provavelmente são descendentes de um povo que ficou isolado nas cabeceiras do rio Orinoco, e começaram sua diferenciação interna há sete séculos. Conforme suas tradições sua antiga terra era a terra firme da Serra Parima, entre o Orinoco, atualmente na Venezuela e os afluentes do rio Branco que desce para o rio Negro no Brasil (Albert 1999). Os espanhóis penetraram a região procurando o El Dourado. Os Portugueses construíram uma fortificação perto das desembocaduras dos rios Uraicuera e Tacutu no rio Branco e tentaram atrair os índios e mais de mil eram estabelecidos em aldeias no Branco. Não conseguiram a ganhar os Waiká (Yanomami) sair das colinas entre os rios Branco e Orinoco. Por isso este povo e a maioria dos Atorí têm sobrevividos dos perigos de contato.
Os primeiros contatos com os Yanomami foram por Cel Manoel da Gama Lobo d' Almada que foi acompanhado por alguns Yanomami (Hemming 1995.32,36), e pela expedição de Bodadilla em 1789. Eles sobreviveram as epidemias e escravidão por viver na terra firme interfluvial até o século XX (Chernela et. al. 2002.13). Os Carmelitas montaram uma Missão com outras etnias no rio Branco em 1846, mas esta tentativa perdeu os seus índios e o frade Pereira tentou persuadir os Yanomami tomar o lugar deles, mas recusaram (Hemming 1995.326).
Pelo menos na Venezuela tiveram contato com o mundo de fora por mais que cem anos, e comerciaram e receberam machados de aço e potes para cozinhar. Eles trocaram os produtos com outras comunidades mais remotas, e a sua própria generosidade aumentou a demanda e provocou conflitos por inveja (Rabben (2004.93). A sua dispersão dos Yanomami para a área atual começou no século XIX, devido ao crescimento da sua população, a adoção de ferramenta de aço e novos métodos de cultivação (Albert 1999). Eles penetram áreas esvaziadas pelo impacto negativo do contato com os europeus quando os povos destas áreas eram decimados (Chernela et. al. 2002.13).
Contato constante na Venezuela começou quando James F. Barker da Missão Novas Tribos dos USA veio para morar entre eles por anos durante a década 50 e estudar a língua, e produzir estudo antropológicos e traduzir a língua. Chagnon foi introduzido por Barker. Os Salesianos estabeleceram um posto no outro lado do rio em concorrência com a Missão. O SPI montou postos entre 1940 e 1960 que eram fontes de objetos manufaturados e providenciou um pouco de assistência de saúde e também de epidemias de sarampo, gripe e coqueluche (Albert 1999).
A tentativa de converter os índios falhou muitas vezes, mas trouxeram tratamento médico e educação em português. Os antropologistas não identificaram os Yanomami como um só povo até a década 60, eles também complicaram a vida indígena por distribuir presentes de produtos industriais e até provocando conflitos na concorrência de possuir os bens da civilização. Depois 1973 os brancos invadiram a região com a construção da Rodovia Perimetral Norte. Este projeto chamado 'Calha Norte' tinha o alvo de colonizar uma faixa perto da fronteira pretendia opor a possibilidade de invasão por estrangeiros (Rabben 2004.98). Somente 250 km da estrada dos 1.500 km projetados, 200 no território Yanomami, foram construídos porém o contato trouxe degradação social, doenças e conflitos. Em 1975 o governo brasileiro fez um mapeamento dos recursos minérios da região (RADAM).
Projetos de colonização principalmente no oeste de Roraima resultou em: estradas, fazendas, serrarias, canteiros de obras e os primeiros garimpos (Albert 1999). Em 1976 500 garimpeiros penetraram na terra Yanomami, e foram expelidos pelo governo somente depois um protesto internacional. Em 1988 10.000 garimpeiros trabalharam no território (Rabben 2004.99). Em 1989 50.000 estavam presentes. 1.500 Yanomami morreram sob a investida da 'civilização' entre 1987 e 1990 pela água contaminada e as doenças, inclusive a malária, introduzidas pelos garimpeiros, infecionaram entre 15 e 20 porcento da população (Rabben 2004.104). Mais de cem pistas aéreas ilegais de garimpo foram abertas, com 30-40.000 garimpeiros dos afluentes do rio Branco entre 1987 e 1990. Depois o número diminuiu, mas ainda muitos continuem na área em 1999. 60% do território Yanomami está coberto por requerimentos e títulos de empresas de mineração (Albert 1999). Em muitos lugares os indígenas deixaram de construir os xabono para viver em cabanas cobertas de plastico e ficaram tão doente que não mais cultivam as roças. A Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY) de antropologistas, etc. fez propostas de estabelecer 9 milhões ha pelos Yanomami. Anos de conflitos seguiram entre diversas instituições federais e estaduais. Em 1991 Presidente Collor demarcou 9.4 milhões ha de terra Yanomami (Rabben 2004.106). A Terra Indígena Yanomami foi homologada em maio 1992.
Na Venezuela o Reservo de Biosfera Yanomami/Parque Nacional Parima-Tapirapeco (PNPT) foi estabelecido em 1991 por decreto presidencial No. 1635. Este inclui todas as terras usadas pelos Yanomami aonde eles têm direito do usufruto em perpetuidade, porém não o direito de vender território ou os recursos de madeira ou minério. Comércio com a economia fora é limitado para os postos governamentais e missionários (Chernela et. al. 2002.14).
No Brasil vivem em áreas administradas pela FUNAI, principalmente T. I. Yanomami, que garanta o usufruto pelos Yanomami. Conforme a Constituição de 1988, revisada em 1999, os indígenas têm cidadania completa, o direito de usar sua língua na educação pública e o estado deve proteger a expressão da sua cultura e direito ao território com o usufruto exclusivo (Chernela et. al. 2002.16). Algumas ONG em Boa Vista sustentam projetos de saúde e edução no território Yanomami. Esta provisões são limitadas na Venezuela e por isso muitos Yanomami a travessam a fronteira. A CCPY mantém um programa de educação bi-lingual, produzindo apostilhas basadas na vida tradicional Yanomami (Chernela et. al. 2002.17).
A Associação Kurikama, cujo nome faz referência e representa uma homenagem a um espírito oriundo do mito da criação do povo Yanomami, foi formada com objetivo fortalecer os laços entre os diversos Xapono Yanomami dos Rios Marauiá e Preto e definir estratégias coletivas perante políticas públicas ineficazes e desencontradas, que releguem, muitas vezes, a realidade Yanomami do Amazonas em segundo plano. Em 2013 aconteceu no xapono do Komixiwe a terceira Assembleia Geral com 250 representantes de 13 xapono.
Estilo de Vida: Os Yanomami são tradicionalmente seminômades, caçadores e coletores e praticantes da agricultura de coivara – derrubada, queima, plantio e colheita. Habitam uma região de serras ao norte da Floresta Amazônica, na fronteira do Brasil com a Venezuela. No lado brasileiro, o território Yanomami se espalham pelos Estados do Amazonas e de Roraima. Formam a sétima maior etnia indígena do Brasil, com aproximadamente 17.000 pessoas, distribuídas em cerca de 230 aldeias (Poleto 2011).
Os Yanomami vivem em grupos de famílias em casas comunais chamados yano ou xapono. As aldeias são formadas de uma só casa, o xabono ou xapono. A casa é de forma cônica com o centro aberto ao céu. Em redor do círculo cada família tem uma secção de uns 10 metros quadrados coberto pelo telhado e há um espaço entre as secções de um metro. Cada casal constrói sua secção. O xabono dura por dois anos de depois começa a vazar água e é quebrado para mata a infestação baratas e escorpiões (Chagnon 1968.26). As folhas que formam o telhado são apenas deitadas soltas e não seguradas. Mas nas aldeias do rio Marauá o telhado tradicional é feito de uma folha chamada Ubi, a qual é trançada em linhas de cipó que são amarradas uma acima da outra em espaços de cerca de dez cm (Poleto 2012). Os Yanomam ou Waica tendem ter um telhado completo com um buraco par a fumaça. O xabono tem uma só entrada e uma cerca ou paliçada três metros de altura em redor. Porém os Yanomami do norte e nordeste moram em casa rectangulares. No oeste no rio Marauiá, entre os Yanomami, a cobertura é muito aberto e cobre somente os compartimento de cada família e até espácios no circulo são deixados para outras famílias construir sua parte e o diâmetro é maior (Berwick 1992).
As aldeias são seminômades, quando o solo das roças tornam-se menos fértil, caça e coleta na mata mais perto diminua e quando alguém morre os hekura são libertos, fazendo o yano ou xabono perigoso. Elas ficam em um local por aproximadamente por cinco ou sete anos (Berwick 1992). De vez em quando o povo abandona o xabono por algumas semanas para fazer uma caminhada estilo caçador coletador, enquanto falta banana da terra falta e madurece. Vivem na mata com tapiris, se sustentam com a caça e coleta de frutas, a grande distancia até no território de outras aldeias. A vantagem deste tempo fora é para limpar a mata perto do yano e deixa a caça recuperar. Quando o jardins são produzindo de novo o povo voltar para viver no yano como antes.
Hoje em dia nos rios Marauiá, Cauburis, Maturacá e Marari os xabono são formados por casas separadas, dispostas em círculo com a frente voltada para o pátio central. Esta mudança da forma do xabono foi em decorrência do contato com a sociedade envolvente e o estilo de moradia e arquitetura dos regionais (Poleto 2012).
Cada grupo é economicamente e politicamente autônomo e se referem como kami theri yamaki ('nós co-residentes') e pratica a endogamia local (Albert 1999). Uma área de floresta em um raio de 5 km. é para o uso da comunidade e dos seu indivíduos por coleta e pesca. A área mais ampla em raio de até 10 km. é para caça individual ou coleta de família. O espaço maior em raio de 20 km. é para expedições de caça coletiva, especialmente em preparação de festas funerárias e as caças de três emanas ou mais durante a fase de maturação das novas roças estabelecidas neste espaço. Assim os Yanomami passam um terço do tempo acampados em tapari fora da aldeia ou yano, mas sua dependência de remédios e artigos dos brancos tem diminuído este tempo (Albert 1999). Hoje em dia o estilo de vida mudou e no rio Marauiá são mais sedentários. Dois dos fatores deste processo são o avento da escola e do atendimento de saúde que são baseados em estruturas fixas. Os Yanomami são relutantes em se mudar de aldeia e manter esta dinâmica de mobilidade tradicional, pois assim perdem ano letivo e estão descobertos de atendimento a saúde (Poleto 2012).
Os Yanomami caçam macacos, queixada e capivara, tatu, anta, veado e jacaré, mutum e diversos roedores. Usam arco e flechas com quatro tipos de pontas. Usam fumaça para extrair tatu dos suas tocas, escutando com o ouvido no chão para descobrir aonde o animal está cavando para escapar a fumaça. Os Yanomami caçam mais que uma área pode sustentar e por isso sempre mudam suas aldeias para partes do mato menos caçado (Chagnon 1968.32). São coletores de vários frutos, mel e insetos da floresta. Enquanto estão nas expedições de caça eles avaliam as áreas da floresta para fazer novas roças. Pescam usando timbó.
É calculado por Chagnon que 85% da dieta dos Yanomami é das suas plantações (hikari täka). Eles limpam o chão primeiro da vegetação para depois derrubar as arvores maiores que foram o dossel florestal e fazer a coivara. Antes de ganhar machados de aço eles tiram a casca em redor do caule para deixar a arvore morrer e permitir a luz penetrar para o chão. A banana da terra é a fruta mais importante, onde cultivam quatro variedades. Depois alguns anos, devido as colheitas diminuindo, um lado da roça (o 'reto') é abandonado e uma área aberto no outro lado (o 'nariz') (Chagnon 1968.33, 35). São cultivados, banana da terra (e outras variedades, como banana maça e roxa), mandioca, milho, batata doce, algodão, tabaco, cana, manga e papaia.
A estação seca é o tempo para visitar outras aldeias. Trilhos entre aldeias seguem a direção mais direta e são marcados por hastes dos arbustos quebradas e tapiris. O caminhos são impedidos por lagos e riachos cheios da época das chuvas. Pinguelas são construídas para atravessar as correntes maiores (Chagnon 1968.20).
Os homens e as mulheres se pintam de urucum (Bixa orellana annato) que é vermelha para proteger-se de insetos e dos raios do sol. Os guerreiros se pintam de preto para guerra, festas, e os ritos.
Os homens tecem as redes, mas as mulheres fazem a fiação do algodão. Na aldeia os homens gastam tempo contando proezas da caça e pesca, enquanto as mulheres cuidam dos filhos, do fogo e preparar os alimentos e limpar e pátio e fazem muito do trabalho da roça. Criam animais da mata como animais de estimação, que forma parte da família e não são comidos: Papagaios, tucano, agouti, cuxíu. Criam cachorros para a caça e não criam galinha, porcos e gatos (Laudato 2006.21). Hoje no rio Marauiá os Yanomami criam galinhas mas a maioria ainda não as comem, porém trocam com os brancos (Poleto 2012).
Artesanato: Na década 60 os Yanomami fazerem potes de barro simples que são usados para cozinhar pelos homens. Arcos são formados por raspar a madeira com as dentes de capivara. Uma aljava, feita de uma secção de bambu, é usada para carregar pontos de flechas e dardas, e facas de dentes de cutia e um parafuso para ascender fogo estão prendidos no lado de fora (Chagnon 1968.22). Os Yanomami sabem contar apenas um, dois e mais de dois (Chagnon 1968.15), então treinamento de contabilidade básica é necessário para o comércio de artesanato. O projeto envolve 230 mulheres fazerem artigos para vender nas lojas em Manaus (Pró-Arte Yanomami.
Sociedade: Os Yanomami se identificam entre eles conforme o nome da aldeia. No rio Marauiá, por exemplo, existem cinco grupos que deram origem às dez aldeias atuais. Por exemplo os Xamatauteri pertencem aos grupo que se originou da aldeia Xamatá, -teri é um sufixo para povo. Pohoroábieteri da aldeia Pohoroá (Poleto 2012). O mundo fora da aldeia e da comunidade intima é visto como perigoso e é dos alheios (yaiyo thëpë). Até visitantes das alianças e cerimonias são considerados ser capaz de lançar doenças sobre a comunidade por feitiçaria, motivado por vingança ou ciume. Pessoas mais distantes podem enviar espíritos predadores ou matar o animal duplo (rixi) de um membro da comunidade. Também os brancos podem afligi-los com epidemias pelas fumaças das suas maquinas e motores (Alberto 1999).
Então os Yanomami formam alianças com seus vizinhos para trocar esposas e se defender dos inimigos. Estas alianças foram uma rede complexa de relacionamentos que alcança todo o território Yanomami (Alberto 1999). No caso de ataques eles são relutantes de mudar a aldeia, por causa da dificuldade de começar e transplantar as mudas das bananas de terra. Chagnon descreveu o tamanho das comunidades ser determinado pela necessidade de ter guerreiros e defensores. Famílias saem ou entram em uma comunidade por causa de brigas, especialmente sobre mulheres e facções formam (Chagnon 1968.40). Chagnon descreve o valor do guerreiro e da agressão na vida dos Yanomami; escreveu que em dois anos uma aldeia foi atacado 25 vezes e rapto de mulheres, duelas e as competições de soco no peito foram constantes entre amigos (Chagnon 1973.2). Entretanto Peters, que morou em uma aldeia no rio Mucajai entre 1958 a 1967 afirma que a comunidade participou em só quatro ataques em 50 anos, por motivos de acusações de feiticeira, a causa de doenças como pensaram, e não para raptar mulheres (Tierney 2000). Conflito pode resultar se uma mulher é raptada de um yano para outro. Nos ataques a convenção é bater na cabeça com o porrete, é ofensa se bater no corpo e quebrar um braço ou perna (Berwick 1992). O Tuxana yanomami lidera pelo bom conselho e não por mandar (Berwick 1992).
Cada aldeia ou yano considera-se autônoma e os membros preferem se casar dentro a comunidade. O casamento preferido é entre primos cruzados (Alberto 1999). Infidelidade e lesbianismo são proibidos e castigados com violência. O casamento pode ser polígamo. Incesto com uma irmã, filha, mãe ou filho do mesmo pai mas com mães diferentes é considerado e punido como imoral e exposto ao desprezo pela comunidade e o culpado tem que fugir da aldeia (Laudato 2009. 108). As esposas podem ser dadas a outros homens e um nenê pode ser morto se competir pelo leite de outras crianças (Chagnon 1968.14).
As mulheres são responsáveis pelos jardins familiares nas roças e na época da colheita podem carregar 30 kg. nas costas. Enquanto os homens caçam as mulheres coletam a larva do cupim, sapos, caranguejos, lagartas para assar ou pescam. Com o começo das menstruação acerca de dez ou doze anos a moça é escondida em um compartimento de pari, pois o sangue menstrual é considerado venenoso; o sangue é enterrado no chão e ela não é permitida tocar comida, sendo servido com a comida em uma vara. Logo depois ela é casada, primos cruzados sendo preferido. Para a maioria das cerimônias as mulheres não podem participar, mas fazem os preparativos.
Religião: A cosmovisão é muito forte e a pajelança controla o ambiente, todos os homens sendo pajés e confrontar um pajé é coisa séria e especialmente os mais poderosos que predominam na comunidade.
A alma Yanomami tem três partes: noreshino uhudi ou bore, e no borebö
noreshi permanece na terra após da morte e têm um gemio de um animal que vive distante do seu semelhante humano. A éspecie do animal é herdada do pai ou da mãe. O animal que é o noreshi do indivíduo experimente os mesmos problemas do humano. Quando a pessoa está doente seu noreshi pode ser perdido na mata e precisa de ser atraído de volta (Chagnon 1968.47). Este conceito é semelhante à ideia dos Sanumá.
A segunda parte da alma, no uhudi, é solto quando o morto está cremado para perambular no mato para sempre. Todas as crianças que morrem têm somente esta parte, porque a terceira parte desenvolve pelas experiencias da vida. A terceira parte, no borebö vai para o céu e encontra uma forquilha onde o filho do Trovão interrogam se fossem generosos ou mesquinhos. Os últimos são mandados no caminho de um inferno. A maioria dos Yanomami pensam é possível mentir e ir para o paraíso onde vão ter uma vida semelhante à vida terrena (Chagnon 1968.48).
Os cadáveres dos mortos são deitados em um jirau na mata para decompor por alguns meses. Os yanomami temem contaminação da fumaça se queimar a carne. Os ossos são queimados na aldeia, e as crianças e mulheres saem para evitar a contaminação. Todos os fragmentos dos ossos são colhidos das cinzas, colocados no tronco de 1,5 metros, cavado na forma de um cocho, e quebrados em pó misturados com um mingau de banana da terra para incorporar as virtudes dos entes queridos e perpetuá-los na vida deles (Laudato 2009.18). Há outras interpretações dadas desta prática (Poleto 2012). Parte do mingau é guardado para ser comida no primeiro aniversário da morte, o resto é bebido na cerimônia (Chagnon 1968.50).
Falar os nomes de homens ou dos mortos é em acordo com regulamentos rigorosos. Em público, em conflito com a cultura ocidental, é uma insulta para chamar uma pessoa por seu nome ou referir a um falecido por nome na presença de parentela. Em particular é permitido se os ouvintes não são parentes da pessoa nomeada. Na comunidade do falecido o nome do falecido é evitado, mesmo que seja a palavra de um animal, por exemplo anta, um substituto é usado. Os Yanomami acreditam que toda menção ou pertence do morto deve ser eliminado (Charnela et. al. 2002.82). Não aceitam a reincarnação e o nome do morto não pode ser usado de novo. O nome de uma criança é dado quando é certo que a criança vai sobreviver e nome é sussurrado e não pode ser repetido por outra mãe. Os Yanomami temem que um inimigo pode usar o nome para lançar um feitiço (Laudato 2009.59).
Creem que o demiurgo Omama (Omawá Poleto 2012) deu a floresta aos Yanomami. Chamado urihi (que significa mata, floresta), é considerado uma entidade viva com os animais e aves cheia dos recursos para a vida yanomami. Os animais são encarado como as aparências de antepassados humanos e animais que não conseguiram ir ao céu devido ao se comportamento mau. Nas profundezas do mato há espíritos maus que tentam caçar os Yanomami (Alberto 1999).
Os pajés (shabori) têm contato com os demônios (hekura) e cantam para motivá-los atacar os outros ou defender sua aldeia. Durante sua iniciação o novato inala por muito dias o alucinógeno yãkõana (pó da resina da virola sebifera) aprendendo conhecer aos espíritos xapiripë, que são enxergados com pequenas humanoides e enfeitada de ornamentos e dançam alegremente. Os xapiripë foram deixados por Omama para cuidar dos homens. Representem diversos animais, árvores e aspectos da floresta e do tempo em uma hierarquia, moram nas serras e brincam na floresta. Há também os espíritos dos brancos que são usados para combater as epidemias. Os pajés têm a facilidade de mobilizar os espíritos em defesa da comunidade, controlar o tempo, a fertilidade e muitos aspectos da vida, e por isso têm autoridade na sociedade e organizam as atividades de cada dia.
Eben ou Epna (paicá) o alucinógeno é feito com sementes de paricá torradas e socadas, misturado a cinzas da casca de uma arvore (Paricarana), depois de misturado e peneirado em pó fino é consumido por soprar pelas narinas (Chagnano 1968.24 e Poleto 2012). Quando o vento levanta os pajés correm para o meio do pátio e cantam ao espírito do vento, Wadriwã, para que não tire as folhas do telhado do xabono (Chagnon 1968.19).
O uso da farmacopeia nativa é comum a todos nas comunidades, não é considerado um conhecimento especializado. São os casos mais graves que são tratados pelos xamanismo (Silveira 2003).
A noção da pessoa é complexa. O corpo é a parte material quecontem três componentes não materiais: os uhutipënorexi e noram. O uhutipë é a imagem vital que anima o sujeito. A mãe da criança doente esconde as folhas que representam o uhutipë no mato. Quando as folhas são trazidas de volta volta o princípio vital da criança. O noram é como a sombra da pessoa à contraluz, uma imagem fantasmática enxergada sob ataque de espíritos. O norexi é um duplo animal, um pássaro para os homens, muitas veze o gavião real, e um animal terrestre ou aquático, como o ariranha, para as mulheres. o animal segue paralelo os estágios da vida da pessoa, por exemplo, é filhote quando a pessoas é criança. O destino do animal está ligado ao destino da pessoa, nascem e morrem no mesmo instante (Silveira 2003).
Cosmovisão: Os Yanomami consideram sua origem ser filhos do demiurgo Omama e a filha do monstro aquático Tëpërësiki, dono das plantas cultivadas. Os Yanomami são descendentes de gotas de sangue da Lua, e o sangue os causa guerrear, pois os Yanomami que eram da sangue mais grosso se mataram até nenhum sobreviveu. Os Yanomami de hoje são do sangue menos grosso e por isso não são tão agressivos (Chagnon 1968.47). No rio Marauiá Omawá é primeiro dos Hekura que junto com seu irmão deram origem aos demais Hekuras. Omama deu as regras da sociedade yanomami e o território da floresta como toda sua fauna e flora, bem como os xapiripë, os espíritos auxiliares dos pajés. A origem do bem e do mal é o conflito entre o filho de Omama que era o primeiro xamã e o irmão malvado de Omama, Yoasi, que criou a morte e os males (Albert 1999).
Os pajés têm a responsabilidade de manter o cosmo. Pela ajuda de espíritos auxiliares ele não deixam o céu cair como aconteceu no princípio do mundo. O criador Omama enterrou um veneno na terra, e enquanto o ouro permanece dentro da terra os vapores venenosos não podem sair para matar os Yanomami (Rabben 2004.90, 133).
Os pajés são guerreiros em uma batalha invisível e espiritual. Chamam os xapiripë ou hekura para os auxiliar contra os espíritos maus da floresta, a feitiçaria dos inimigos, manter o céu para não cair e sobretudo curar os doentes (Albert 1999). Os Yanomami dividem as doenças tratadas pelos pajés das doenças europeias que o pajé não tem remédio e devem ser tratadas somente pela medicina moderna (Berwick 1992). Os homens são treinados ser pajés e tomam ebene, o rapé alucinógeno (feito da resina da Varola theidora) para dançar e cantar. No rio Marauiá o cipó se acha somente rio abaixo no rio Negro. A música vem do seu espírito que vem habitar no seu corpo. O xapiripë de um amigo pode ser o inimigo (Berwick 1992).
Quando um homem estava muito doente e perto da morte, os homens pintaram e tomaram ebene e depois vinte minutos começaram a cantar e gritar. Avançaram para onde o doente estava deitado na sua rede, dando golpes no ar com seus porretes na direção do doente. Começou uma batalha com um inimigo invisível, com alguns 'guerreiros' caindo feridos por flechas espirituais. Os caídos foram puxado para fora da batalha e as flechas invisíveis tiradas. Xingaram o espirito ou monstro que estava tirando o espírito do moribundo. Gritaram e bateram o chão com seus porretes em frente do compartimento do yano do homem. O pajé recuou depois cada ataque para organizar seus 'soldados' para atacar de novo. Os homens percorreram pelos outros compartimentos das famílias do yano, crianças e mulheres espalharam para fora. Aparentemente estavam correndo atrás o monstro para expulsá-lo do yano e salvar a vida do doente. A batalha terminou quando todo o ebene acabou (Berwick 1992).
No dia seguinte o homem morreu, cinco homens cortaram lenha e ascenderam o fogo, no pátio do yano. Com gritos e lamentos o cadáver foi colocado nas chamas e todos os seus pertences foram jogados em cima também. Quando o fogo terminou a vida no yano voltou para normal, porque o morto deve ser esquecido para não dar oportunidade para os espíritos atacar. Os mortos têm que ser banidos da memoria. Os ossos do morto foram guardados para ser moídos e comidos em um mingau de banana semanas depois. Quando a FUNAI recusou devolver os corpos de Yanomami que morreram em Boa Vista para que o ritual seja cumprido, os Yanomami consideram que uma ofensa cosmológica foi cometida. Quando um guerreiro morre no yano dos inimigos, estes devolvem o corpo para sua comunidade para cumprir o ritual (Berwick 1992).
Outra ocasião no rio Marauiá as mulheres pintam os rostos e dançam e cantam, batendo o chão com vassouras, caminhando pela roça e o Xabano para fazer um tipo de faxina espiritual para expulsar os espíritos (Berwick 1992).
O cosmo é formado de quatro camadas (Chagnon 1968.44). A camada em cima é como uma 'velha', é vazia. A segunda camada é o céu que é feita de terra e é o lar dos mortos e sua vida é semelhante a vida terrestre. O fundo é o céu da terra com o sol, a lua e as estrelas. Esta camada, a terra, originou quando um pedaço do céu quebrou e caiu; aqui vivem os Yanomami e os outros povos que degeneraram dos primeiros. A quarta camada em baixo da terra é um deserto onde moram os Amahiti-teri. Estes eram meio espírito e meio humano. O xabono deles caiu da terra sem levar o mato com caça e terra para roçar. Então os espíritos dos Amahiti-teri sobem para aterra para raptar e comer crianças. Há guerra constante entre os pajés da terras e os pajés do Amahiti-teri (Chagnon 1968.45).
Os Yanomami encaram outros povos, especialmente os brancos, como sub-humanos, e até antropofagísticos, porque matam as crianças Yanomami com suas doenças e até com suas armas (Rabben 2004.128). São encarados como os mortos tentando voltar do céu para viver na terra, uma tema escandalosa que é repetida nos rituais. Os estrangeiros eram criados por Omama por uma espuma do sangue de ancestrais yanomami, devorados por jacarés e ariranhas. Sua língua 'emaranhada' foi os dado pelo zumbido de um antepassado mítico dos marimbondo (Albert 1999).
Mitos: Os Yanomami possuem uma rica literatura oral e gostam de conta estórias e da retórica política (Rabben 2004.92).Os Yanomami possuem diversos mitos etiológicos. Os primeiros seres comeram sujeira e animais, porque não sabiam cultivar. O cacique deles, Bore, teve uma roça de bananas da terra e outras plantas domesticas, mas as guardou para si mesmo. Outro ser, perdido na floresta, descobriu a plantação de Bore, e assim os outros aprenderam cultivar as plantas (Chagnon 1968.46). O jacaré guardou o segredo do fogo na sua boca. Quando os outros seres o fez rir o fogo caiu da boca e assim os outros tem o uso do fogo (Chagnon 1968.46).
Conforme um dos seus mitos é natureza do homem guerrear; o sangue da Lua foi derramado nesta camada do cosmo, fazendo os homens bravos, e Chagnon foi impressionado com agressão como a caraterística predominante (Chagnon 1968.1).
Alguns não aceitam os mitos, e até acham graça das suas explicações (Chagnon 1968.17).
Um mito conta sobre um dilúvio que matou muitos dos primeiros seres, porém os primeiros Yanomami escaparam por subir as montanhas. As águas recuram quando uma mulher mergulhou pintada como pontos vermelhos e se tornou uma grande serpente que mora nos rios grandes. Os estrangeiros sobreviveram em um dilúvio por boiar em troncos, e hoje são inimigos dos Yanomami e andam em canoas grandes (Chagnon 1968.47).
Comentário: O primeiro contato dos Yanomami com o mundo de fora foi na década 50 por James P. Barker da Missão Novas Tribos dos Ee Uu que viveu entre os índios por anos em diversos lugares como Ocamo, Platanal e Mavaca no alto rio Orinoco. Foi ele que levou Chagnon (então com 26 anos) no seu primeiro encontro com os Yanomami que o antropólogo descreve com detalhe terrifica (Chagnon 1973.5). O fato Barker já tinha viveu na mesma aldeia por cinco anos, sem encontrar problemas. Apesar do Chagnon ficar conhecido com seu livro The Fierce People (O Povo Bravo), Barker já tinha aprendido a língua e publicou muitos artigos etnográficos nos jornais antropológicos da Venezuela antes dos breves estágios do antropólogo (Chernela 2002.13). Chagnon tentou se contextualizou e andou como fosse um pajé branco, e não se sabe o que os Yanomami pensaram disso. Os Yanomami temeram este branco, que tomou alucinógenos demais e até atacou outros antropólogos e fez os Yanomami chorar por ter revelados seus nomes a ele. Os Yanomami pensaram que Chagnon trouxesse doenças de fora, e anos depois os pajés tentaram ainda combater a influença das visitas que ele fez por helicóptero (Tierney 2000). Seu livro The Fierce People deu uma impressão errada, mas estabeleceu o autor no mundo antropológico. Ele revisou sua posição sobre a violência nas últimas edições do seu livro, mas suas primeiras ideias já prejudicou os Yanomami na vista dos brancos. Em 1997 disse que The Fierce People foi escrito para contrariar a opinião comum da época sobre 'selvagem nobre' (Tierney 2000).
John F. Peters trabalhou entre um grupo do Ninan Yanomami com UFM International, na Roraima e continuou a estudar antropologia na aldeia e tornou- se professor de sociologia no Canadá. A maioria dos missionários da MEVA e Crossworld (antiga UFM) atuam entre os Yanomami na Roraima. A MEVA conta hoje com 34 igrejas indígenas, as quais possuem estrutura, liderança e programa próprios, sendo: 6 na área Macuxi, 4 na área Uapixana, 5 na área Yanomami e 19 na área Wai-Wai.
A Missão Novas Tribos do Brasil nas comunidades de Mararí (668 pessoas), no município de Barcelos (AM) e a 436 km da cidade e Novo Demini (216 pessoas) no município de Boa Vista (RR). O trabalho começou com Jaime Macnait subindo o rio Denini construindo uma casa no Posto do SPI e depois Keith Wardlaw e Paulo Ziberman com contatos como os Yanomami de Aracá em 1957. Mais quatro obreiros se juntaram à equipe em 1960. O atual Posto Marari foi aberto em 1968 (10 obreiros). Pela convite da FUNAI e os próprios indígenas os Posto Novo Demini foi estabelecido para dar ensino e atendimento médico (8 obreiros). Os crentes estão recebendo o Ensino Cronológico. O treinamento de agentes de saúde e professores está em andamento (MNTB 2010). O Projeto Amanajé tem uma equipe trabalhando com este povo baseada em Santa Isabel do Rio Negro.
O evangelismo não é apenas salvar 'almas', é também participar na mudança da cosmovisão. Davi Kopenawa Yanomami tornou-se um embaixador para o povo Yanomami no estrangeiro e no Brasil. Quando ainda uma criança ele aprendeu ler a Bíblia em português pelos missionários da Missão Novas Tribos. Com doze anos ele saiu da aldeia depois sua mãe morreu de sarampo, trouxe na comunidade por um filho dos missionários, que estes admitiu depois (Rabben 2004. 125,134). A filha dos missionários pegou sarampo em Manaus, mas eles não reconheceram os sintomas até chegaram de volta na aldeia. Os pais mandaram os índios fora da sua casa, mas um abraçou a criança e pegou a doença e ele a transmitiu aos outros, conforme Davi (Chernela et al. 2002.37). Este acontecimento abalou a fé em Deus e Davi acreditou sua sobrevivência do sarampo a Omam.
Os missionários queriam fazê-lo um pastor, mas ele sofreu de tuberculose e foi a Manaus e depois trabalhou para a FUNAI. Observando o sofrimento do seu povo, e sua experiencia do evangelicalismo o deu o método de ser um porta-voz pelos Yanomami. Aprendendo a religião tradicional do sogro, ele fundou sua advocacia da mitologia Yanomami. Percebendo um pouco a motivação para evangelismo da cosmovisão bíblica que ele adotou elementos da cosmovisão do seu povo como motivação para enfrentar os inimigos dos indígenas e ganhar o apoio de outros. O principal espírito mau, Xawara, é branco e é fumaça que mata as crianças Yanomami. O vapor do mercúrio usado pelos garimpeiros é uma manifestação dele. Os pajés protejam o mato dos espíritos maus e seu conhecimento é a salvação até dos brancos; assim sem os Yanomami a terra é condenada. Um dia o céu rachar e ele e o sol vão cair. Rabben liga esta visão com Apocalipse 8:12 (Rabben 149).
A cosmovisão é muita forte no pensar do Yanomami. Precisamos uma cosmovisão bíblica que tem pontes para relacionar com a cosmovisão indígena. É irônica que o método cronológico não consegue isso. A maior parte da Bíblia não trata da salvação do indivíduo e o programa messiânico é envolvido em Deus cumprir as promessas para bem-estar na presença do Criador de uma etnia, Israel, como eles vivem, se comportam e sobrevivem no mundo de forças e impérios maiores.
As crianças aprendem por observar os pais e a conversão deve ser por exemplos concretos e histórias. A Bíblia é história, o planos de Deus se cumprindo em indivíduos e povos. O Ensino Cronológico é um passo certo. Nossas vidas são a continuação da mesma história embutida na circunstancias históricas da providencias de Deus e partes corporativas de outras gerações e da nossos contemporâneos. A realidade de Deus e seus atributos devem ser demonstrados em exemplos bíblicos e contemporâneos. A conversão deve ser coletiva e a enfase evangélica de examinar e insistir em convicções individuais deve ser reexaminada.
Bibliografia:
  • ALBERT, Bruce 1999, 'Yanomami', Povos Indígenas do Brasil, Instituto Socioambiental, São Paulo, pib.socioambiental.org/pt/povo/yanomami..
  • BERWICK, Dennison, 1992, Savages, The Life and Killing of the Yanomami, Toronto: Vovage Press.CHAGNON, Napoleon A., , 1968, Yanonmamö – The Fierce People, Case Studies in Cultural Anthropology, Stanford University, New York: Holt, Rinehart and Winston.
  • CHERNELA, Judith et. al. 2002, El Dorado Task Force Papers Vol II, American Anthropolical Association, Arlington VA, USA.
  • DAI/AMTB 2010, 'Relatório 2010 - Etnias Indígenas do Brasil', Organizador: Ronaldo Lidório, Instituto Antropos -instituto.antropos.com.br.
  • HEMMING, John, 1995, Amazon Frontier; The Defeat of the Brazilian Indians, London: Pan Macmillan.
  • HEMMING, John, 2003, Die if You Must: Brazilian Indians in the Twentieth Century, London: Panmacmillan.
  • LAUDATO, Luís, 2009, Ritmos e rituais yanomami, Manaus: Faculdade Salesiana Dom Bosco - FSDB, 1 edição.
  • MNTB, 2010, Missão Novas Tribos do Brasil, relatórios da equipe.
  • PETERS, John F. 1998, Life among the Yanomami, Ontario: Broadview Press.
  • POLETO, Gabriel C., 2012, Comunicação particular.
  • POLETO, Crislaine Teixeira, Poleto, Gabriel Carneiro, 2013, 'Contato, Renda e Cultura: Estudo de caso entre os Yanomami do Rio Marauiá', Manaus: Artigo apresentado ao curso de especialização Lato Sensu em Antropologia Intercultural, no Centro Universitário de Anápolis - UniEVANGÉLICA, como exigência parcial para obtenção do título de especialista.
  • RABBEN, Linda 2004, Brazil's Indians and the Onslaught of Civilzation, Seattle, WA, University of Washington Press.
  • SIL 2009, Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International. Online version www.ethnologue.com.
  • SILVEIRA, Nádia Heusi, 2003, 'O Conceito de Atenção Diferenciada e Sua Aplicação', Universidade Federal de Santa Catarina (www:antropologia.com..br/arti/colab/vram2003/a13-nheusi.pdf)
  • TIERNEY, Patrick, 2000, 'The Fierce Anthropologist', New Yorker November 6.
Fonte:http://brasil.antropos.org.uk/ethnic-profiles/profiles-y/104-329-yanomam.html


Rituais

por Renato Sztutman, antropólogo. Professor do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo, pesquisador do Núcleo de História Indígena e do Indigenismo/NHII-USP e colaborador do ISA

Introdução

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Os mitos contam como as coisas chegaram a ser o que são. Contam como as divindades, os homens, os animais e as plantas se diferenciaram. Os rituais, por sua vez, fazem o caminho inverso dos mitos. E, não por acaso, eles se dispõem muitas vezes a contar o mito, a recriar o mito, promovendo uma espécie de retorno a esse tempo de indiferenciação geral em que divindades, homens, animais e plantas se comunicavam entre si, e produziam sua existência por meio dessa interação. As populações indígenas acreditam que esta comunicação, esta interação deve se dar de maneira mediada e é indispensável para a produção de pessoas e da própria sociedade. Afinal, é do cosmos mítico que são extraídas as matérias-primas para a constituição das pessoas e da sociedade. Perder de vista esta comunicação, esta interação é entregar-se à inércia, à permanência num mundo sem sentido.
Os rituais de iniciação, por exemplo, consistem em fazer com que neófitos [iniciantes] sejam separados do convívio social e, assim, se submetam a um estado de liminaridade no qual a fronteira do mundo social, humano, parece borrar-se. É somente passando por esse estado de liminaridade que o neófito poderá voltar a este mundo, agora de maneira transformada.
Os rituais funerários, de sua parte, consistem em separar os vivos do morto, fazendo que o último retorne ao outro mundo, mundo não-humano. Toda morte coloca os vivos, nela envolvida, num estado de liminaridade. Por isso não é de se espantar que os rituais funerários ou pós-funerários sejam, entre os povos indígenas, muitas vezes aproveitados para a realização da iniciação de jovens.
ritual_javae
Podemos dizer que essa comunicação ritual se estabelece entre seres humanos e seres não-humanos, como espíritos, divindades, donos de espécies naturais, subjetividades que habitam corpos animais e vegetais etc.; todos dotados de diferentes potências. Mas não podemos esquecer que essa comunicação acaba por se fazer entre pessoas de proveniências distintas: gente de outras aldeias, de outros territórios e mesmo de outras etnias.
Os rituais indígenas são uma celebração das diferenças. Em primeiro lugar, das diferenças entre os seres que habitam o cosmos. Os humanos sabem que muito do que possuem – aquilo que chamamos de cultura – não foi meramente “inventado” por eles mesmos, mas sim tomado, no tempo do mito, de outras espécies, e mesmo de inimigos há muito não vistos. Os rituais indígenas são, além disso, uma celebração das diferenças entre os próprios seres humanos, diferenças sem as quais não haveria nem troca nem cooperação. E para celebrar essas diferenças uma intensa trama de prestações – de comida e bebida, sobretudo, mas também, em certas ocasiões, de cantos e artefatos – é posta em movimento.

[Agosto, 2008]

Panorama da Diversidade


ritual_bororo
O ritual funerário dos Bororo (MT) marca um momento especial de socialização dos jovens. Não só porque muitos deles são formalmente iniciados, mas, também, porque é por meio de sua participação nos cantos, danças, caçadas e pescarias coletivas que eles têm a oportunidade de aprender e perceber a riqueza de sua cultura.
ritual_kraho
Na corrida de toras, que está relacionada à realização de diferentes rituais, os Krahô(TO) dividem-se em duas equipes, ditas "metades". Cada uma delas carrega uma seção de tronco de buriti (ou outro vegetal), cujo formato, tamanho e ornamentação são variáveis. Os Krahô são um grupo Timbira, da família lingüística Jê. Outros povos Timbira e Jê também realizam corridas de toras.
ritual_kanela
Entre os Canela (MA), grupo Timbira, os meninos são introduzidos na sua classe de idade por meio de alguns rituais de iniciação. Esses rituais treinam os meninos para se tornarem guerreiros. Tradicionalmente, a maioria das meninas está associada de modo a receber cintos 
de maturidade, necessários para que elas se casem.
ritual_enawene
No yãkwa, ritual realizado pelos Enawenê-Nawê (MT), os habitantes da aldeia, divididos em clãs, realizam uma troca generalizada de alimentos, cantos e danças. O ritual, que dura vários meses e possui duas fases distintas, visa cumprir os ensinamentos dos espíritos subterrâneos, yakairiti.
ritual_karaja
A primeira iniciação dos meninos Karajá (MT/TO) se dá por volta dos sete ou oito anos de idade. Consiste na perfuração do lábio inferior, que irá receber um adorno. A perfuração é feita com a clavícula de um macaco, e se dá na presença dos pais.
ritual_yanoma
Na maloca Toototobi, dos Yanomami (AM), homens realizam sessão com o pó alucinógeno, yãkuãna. Este é muito presente na iniciação dos pajés Yanomami, e deve sempre se dar sob a condução dos mais velhos. 
ritual_huka
Homens xinguanos disputam o huka-huka na aldeia dos Yawalapiti (MT). A luta integra o ritual intertribal kwarúp, que se dá em homenagem aos mortos dos diferentes grupos que 
habitam a região do alto Xingu.
ritual_kadiweu
Os bobos (bobotegi) são personagens que figuram na Festa do navio, realizada pelos Kadiwéu. Este longo ritual remonta aos tempos da Guerra do Paraguai, quando este povo lutou pelo Brasil.
ritual_pankararu
Apesar de desterrados na cidade de São Paulo, os Pankararu, que migraram do estado de Pernambuco, continuam realizando suas cerimônias, cantos e danças.


Os espíritos xapiripë

yanomami_12
A iniciação dos pajés é dolorosa e extática. Ao longo dela, inalando por muitos dias o pó alucinógeno yãkõana (resina ou fragmentos da casca interna da árvore Virola sp. secados e pulverizados) sob a condução dos mais antigos, aprendem a "ver/ conhecer" os espíritos xapiripë e a "responder" a seus cantos.
Os xapiripë são vistos sob a forma de miniaturas humanóides enfeitadas de ornamentos cerimoniais coloridos e brilhantes. Sua dança de apresentação é comparada à ruidosa e alegre chegada de grupos convidados, ricamente adornados, numa festa intercomunitária reahu. São, sobretudo, "imagens" xamânicas (utupë) de entes da floresta. Existem xapiripë de mamíferos, pássaros, peixes, batráquios, répteis, lagartos, quelônios, crustáceos e insetos. Existem espíritos de diversas árvores, espíritos das folhas, espíritos dos cipós, dos méis silvestres, da água, das pedras, das cachoeiras… Muitos são também "imagens" de entidades cósmicas (lua, sol, tempestade, trovão, relâmpago) e de personagens mitológicas. Existem também humildes xapiripë caseiros, como o espírito do cachorro, o espírito do fogo ou da panela de barro. Existem, enfim, espíritos dos "brancos" (os napënapëripë, mobilizados, por homeopatia simbólica, para combater as epidemias) e de seus animais domésticos (galinha, boi, cavalo).
Fonte:https://pib.socioambiental.org/pt/povo/yanomami/

Pajés, rituais e espíritos da cultura indígena Yanomami
Colaboração Palloma Carolline

Encontro de pajés, maloca do Demini, T. I. Yanomami.
O Xamanismo é, juntamente com seu sistema ritual funerário e guerreiro, um dos pilares culturais da sociedade yanomami. As sessões xamânicas, individuais ou coletivas, constituem uma atividade ao mesmo tempo regular e espetacular e a maior parte das casas coletivas (aldeias) conta com vários Xamãs.
Os Yanomami costumam dizer que um futuro pajé é, desde a infância, habitado por estranhos sonhos induzidos pelos espíritos que fixam seu olhar sobre ele. Ao tornar-se adulto ele deverá, então, aprender a vê-los e a chamá-los. A iniciação dos pajés yanomami é ao mesmo tempo dolorosa e extática. Assim, inalam durante várias semanas, dia após dia, um potente alucinógeno, o pó yãkoana . Durante esse transe, seu corpo é desmembrado, lavado e ornamentado pelos espíritos , antes de ser invertido e recomposto. Conduzido pelos anciãos aprendem, portanto, a responder aos cantos dos espíritos e a recrutá-los como seus auxiliares. Esses espíritos são denominados xapiripë (ou hekurapë).
Os xapiripë se apresentam sob a forma de miniaturas humanóides cobertos de ornamentos cerimoniais extremamente coloridos e brilhantes. Suas danças de apresentação, acompanhadas de cantos e clamores, são comparadas à ruidosa e alegre chegada de grupos de convidados nas grandes festas intercomunitárias, reahu (cerimônia de aliança e, ao mesmo tempo, rituais funerários). Esses espíritos são, em grande parte, imagens (utupë) de seres ancestrais animais (yaroripë) do tempo das origens (e não uma réplica dos animais de hoje).
Assim, a maior parte das imagens-espíritos xapiripë são de mamíferos, pássaros, répteis, batráquios, peixes, crustáceos ou insetos. Além dessas, existem imagens-espíritos de árvores, folhas, cipós, mel selvagem, águas, pedras e corredeiras. Os xamãs invocam ainda imagens-espíritos de diversos personagens míticos (animais ou não) e de entidades cósmicas (sol, lua, tempestade, trovão, raio) sem esquecer de alguns humildes xapiripë, domésticos, como o do cachorro, do fogo ou da cerâmica de cozinha. Finalmente, existem os ancestrais dos brancos que possuem igualmente imagens-espíritos (napënapëripë), assim como seus animais de criação (galinha, porco, vaca e cavalo).
Os xamãs dizem que sob o efeito do pó yãkoana – “alimento dos espíritos xapiripë” – seus olhos “morrem”. Entram, então, em um estado de transe visionário durante o qual chamam , fazem descer e fazem dançar as imagens-espíritos xapiripë que adquiriram durante sua iniciação. Nesse momento se estabelece um processo de identificação entre os espíritos e seu pai, o xamã. Esse último incorpora, sucessivamente, cada um daqueles que convoca imitando seu canto e sua coreografia (mais uma vez, os espíritos dos ancestrais animais têm aqui um lugar privilegiado). Em Yanomami designam-se assim, os xamãs pela expressão xapiri thëpë que significa “as pessoas espíritos” e a condução de uma sessão xamânica pelo verbo xapirimu “agir/comportar-se como espírito”.
Após a iniciação, os espíritos auxiliares de um pajé (seus filhos) passam a residir em uma casa coletiva fixada no “peito do céu”, acima dele . É de lá que ele os chama e os faz descer, em função do uso de suas armas e de seus poderes, durante as sessões xamânicas que conduz . Aliás, a cada nome de imagem-espírito que os xamãs fazem dançar corresponde uma miríade de seus avatares, infinitas imagens umas dentro das outras como inúmeros espelhos.
Esse poder de convocar a incorporar imagens ancestrais como espíritos auxiliares dá aos pajés um papel central na proteção de sua comunidade. Defensores contra os poderes patogênicos das alteridades humanas e não-humanas que ameaçam seus membros, são incansáveis guerreiros e negociadores do invisível, dedicados a regular ou combater a ação das entidades e das forças cosmológicas que podem afetar o bom andamento do universo e da segurança dos humanos. Desse modo eles controlam o furor dos trovões e das tempestades, a regularidade e a alternância dos dias e das estações, a abundância da caça, a fertilidade das plantações e das florestas. Eles sustentam o céu para prevenir sua queda, afastam ou combatem os predadores sobrenaturais, resistem às incursos dos espíritos xamânicos inimigos e, finalmente e, sobretudo, curam os doentes, vítimas da maleficência humana (bruxaria, xamanismo guerreiro, agressões dos duplos animais) ou não-humana (predação de espíritos maléficos).
Pajé Sapaim da tribo Kamayurá – Alto Xingu
Pajé Sapaim da tribo Kamayurá atualmente vivendo na aldeia dos Ywalapiti, ambas no alto Xingu
O Pajé é conhecido internacionalmente, principalmente por ter atendido o ator Leonardo Di Caprio e a modelo Gisele Bündchen que foram fotografados pintados e abraçados com Sapaim. Também ficou famoso pela apresentadora Xuxa, o cantor Egberto Gismonti a cura do ecologista Augusto Ruschi , etc
É considerado entre os indios o maior Pajé. A Aldeia Kamaiurá destaca-se ritualisticamente principalmente pelos rituais Kwarup – A festa dos mortos, o Jawari – Festa dos Guerreiros, Moitará – Encontro de Trocas, a luta corporal huka-huka .
Léo : Quem é Sapaim ?
Sapaim : Eu sou paje e médico da tribo, da aldeia, maior curandeiro do Brasil,. Então, hoje eu sou pajé, e o espírito da floresta me preparou para ser pajé. Então eu to consultando meu povo, a aldeia, eu to cuidando do meu povo muito forte.
E agora o pajé está aqui hoje consultando o branco.E aldeia está tudo bem, bem tranqüilo, porque eu deixei todas as aldeias estão bem. Já faz 3 anos que pajé saiu da aldeia, mas depois eu volto. Pajé não quer morar na cidade, vai ficar sempre na aldeia
Pajé vai ficar um pouco. Pajé quer conseguir o dinheirinho, pajé vai conseguir o que precisa conseguir. A verdade, a minha vontade é que pajé precisa na verdade é comprar motor de popa, porque tem muito barco da aldeia, e o povo sempre ocupando pra lá, pra cá. Então pajé precisa conseguir o barco. O meu barco particular. Para eu viajar, consultar, atender…tudo no rio é longe….então pajé precisa de barco para viajar e consultar.
Léo : Quando o sr. começou a curar? Quantos anos tinha ?
Sapaim : Olha eu…é… tem muito pajés na tribo…e…pajé não aprendeu com eles. Eu fui escolhido por Mamaé. Mamaé que significa o espírito.
Na época que eu nasci de minha mãe….o espírito estava lá olhando quando eu nasci…quando eu nasci de minha mãe o espérito sentiu minha energia…quando eu nasci. Disse que para ela eu nasci forte e muito bom. Então o espírito me escolheu…..para eu ser pajé. E, eu não sabia que ele tinha me escolhido para ser pajé….e eu cresci…andei…e eu acho… que eu
Tinha mais ou menos nove anos de idade. E chegou meu sonho…primeira coisa eu sonhei…..eu fumava charuto…um charuto grande…eu fumava….e voava…e corria no sonho. Eu cai dentro da lagoa e vi todos os espíritos dos peixes, os espíritos que vivem na água. E com isso eu ficava sonhando…sonhando…sonhando….até que me deu medo esse sonho. E…meu pai já foi pajé também. Meu pai ele entrou….
Léo : Como chama seu pai ?
Sapaim :O nome de meu pai é Kutamaph, e ele entrou e eu estava chorando, estava chorando muito porque….eu estava com medo do sonho…e quando ele me viu…ele perguntou : Porque você está chorando ?Alguém te bateu ? Alguém brigou com você ? Eu respondi :Não! Ninguém brigou comigo! Eu estou com medo desse sonho ?
Ai parei de chorar e perguntei : Me explica o que significa este sonho ? Está dando medo ! E ele me explicou :
Você não sabe, Mamaé escolheu você para ser pajé . Eu disse: Não ! Eu não quero ser pajé…não quero não. Aí ele explicou : Você vai ser pajé !
Aí eu cresci…e fiquei rapaz…eu acho que mais ou menos 12 anos… que aconteceu. Eu acompanhei meu irmão mais velho…ele é pajé também…o nome dele é Tacumã. O meu pai já tinha falecido. Aí eu lembrei muito meu pai e fiquei muito triste…e lembrava o que ele dizia de eu ser pajé….e acompanhava meu irmão…no começo… e a gente fou plantar mandioca, milho, melancia, abaxi, banana…e de manhã, por volta das 10h não tinha vento…e derrepente veio a luz do Mamaé, bem grande, onde nasce o Sol…
Léo : Como é Mamaé ? Ele tem a forma de um animal ou de um homem? É um índio?
Sapaim : A forma de uma pessoa ! Não é bicho !
Aí veio bem branco e caiu em nosso lado…caiu e estourou….bummm…aí subiu…e derrepente eu recebí uma energia dele…Como se a gente está com febre né…aí eu falei :
Meu irmão…eu não to bem…to com febre . Ele disse: Então…vamos para a nossa oca. Vamos voltar.
Aí nós chegamos tarde…por volta das 4:30h…quando eu cheguei na minha oca, piorei muito…Piorei bastante. E, deitei na rede….e quando o Sol acabou…ele veio….Mamaé veio. Entrou e foi direto onde eu estava…onde estava a minha rede…aquele charutão grande e comprido….
Léo : Só com Tabaco ou com outras ervas ?
Sapaim : A gente faz charutos só com a folha do fumo.
Aí Mamaé sentou…só que a família da oca não viu ele entrar…Ele sentou ao meu lado e …minha irmão e meu irmão…fizeram fogueirinha para me esquentar…eu tava tremendo…e eu via ele….Ele disse : Você ficou com medo de mim quando eu cai de seu lado (tratava-se de uma queda)…eu que cai de seu lado…eu que escolhi você para ser pajé.
Aí não tem como fugir né ? Do que ele falou !
Léo : Mamaé é um espírito que vem do vento, do céu, da terra ..? Da onde vem Mamaé ?
Sapaim : Vem da floresta.
Depois ele disse: Como eu escolhi você….Quando você nasceu de sua mãe…agora já está na hora. Eu vim preparar você para ser pajé . Você vai ser Grande Pajé ! Você vai ser grande curandeiro, eu vou te preparar.
Então ele fumou charuto…e passou energia…e aí eu piorei muito. Dor de cabeça…dor no corpo…tudo. E meu irmão veio me perguntar dizendo : Você está mal, está ruim ? Eu disse : Tô ! Então ele disse: Eu vou chamar o pajé da aldeia para curar você. (Só que ele não via Mamaé ao meu lado).
Então foi chamar os pajés da aldeia…aí vieram dez pajés…dez. Vieram e sentaram, cada um trouxe um charuto né…E aí cada um perguntou :
O que aconteceu ? E disse : Não Sei !!
Então seu irmão foi nos chamar curar você. Você irá ficar bom hoje ou amanhã . E o espírito me falava : Não..você não vai ficar bom agora, ele não conhece a minha energia. Ele não tem como me tirar.
Aí jogaram fumaça, chuparam a cabeça, o corpo, chupava tudo. Olhando ele disse : Eu não estou vendo ? Eu não estou na mão dele ele tentando tirar a minha energia ? Eles não vão conseguir ! Émuito difícil tirar a minha energia ! E aí aí foram embora. Todos os pajés foram embora. Para oca deles. Aí quando eles foram embora…ele fumou charuto…fumou e jogou fumaça no meu rosto e eu desmaiei. E aí..toda a família veio chorando…..
Léo : Para onde o sr. Foi quando desmaiou ?
Sapaim : Eu fui com ele !
Léo : Com Mamaé ?
Sapaim : Com Mamaé. Aí eu voltei, respirei minha energia…e aí toda a família perguntou…o que aconteceu e eu disse : Não Sei ! Não to doente ! Não to doente. Não to mal não ! E derrepente ele tirou a coisa da mão dele, tirou daqui (testa) e fechou meus olhos….
Léo : O que ele tirou ?
É como se fosse um papelão, fita crepe. Colocou na minha boca, e eu não consegui falar, e nos meus olhos, e eu não consegui enxergar…
Léo : Ele cobriu tudo ?
Sapaim : Tudo ! E ele ficou passando a energia em meu corpo e eu fiquei um mês na rede sem comer, sem beber, sem falar, sem enxergar. Depois de um mês ele disse… Ele me chamava de neto…Ele disse: Neto! Você agora está bem preparado, você agora está muito forte, e você vai ser o maior curandeiro da tribo.
Os pajés daqui diziam que era tudo mentira, Que ele não mostrava energia. Que ele tem que mostrar. Aí depois de um mês ele me fez mais uma vez desmaiar. Eu fiquei mais de uma hora desmaiado. Depois ele soprou e eu respirei. Aí ele disse : Agora voce já está bom e pode levantar. Aí eu não sentia mais aquela energia toda na cabeça e fiquei livre. Fiqui bom.
Deepois ele disse : Agora você já está bom e eu vou tirar aqui (Olhos). Tirou pendurou soprou e sumia. Depois tirou daqui (boca) soprou e sumiu. Ele disse : É assim que você vai tirar a dor de seu povo e de toda a sua família. Você tem que mostrar para todos os pajés da aldeia.
Léo : Tirou e apareceu na mão ?
Sapaim : Na mão ! E aí fiquei bom ! Fiqui bom e nunca senti mais nada. Aí ele disse: Agora, você vai ficar na sua oca, não pensa em sai, não pensa em pescar, não pensa em caçar…
Léo : Quanto tempo ?
Sapaim : Fiquei um mês, no outro mês ele deixou..
Léo : O sr comia ?
Sapaim : Aí eu comia ! Aí eu sentia fome depois que eu fiquei bom. Agora quero comer, quero beber ! Eu não comia nada !
Léo : Mas nesses trinta dias o sr. Ficou sem comer ?
Sapaim : Sem comer, sem beber…Ele ficava jogando a fumaça…para eu não sentir fome. Daí…fiquei bom . Aí ele disse : Agora eu não vou dizer para você ficar um mês, dois meses na sua oca não ! Agora você vai ficar dentro da sua oca um ano. E, fiquei um ano…
Léo : Mas…sem comer também ?
Sapaim : Não…ai comendo !
Léo : Mas o sr. Ficava sem sair…de dia e de noite ?
Sapaim : Aí eu não saia nem de dia e nem de noite. Ficava lá preso. Eu só ficava rodando dentro da casa….da oca. Aí depois de um ano ele mandou sair : Pode sair !
Léo : O sr. Ficou até os 10 anos, então, em preparação ?
Sapaim : Em preparação ! Aí eu comecei a trabalhar…eu chamei todos os pajés da aldeia para me ver….
Léo :* Com 10 anos ?*
Sapaim : Não …com 11 anos. Mostrei o que ele passou para mim…aí eu disse :
Hoje eu sou pajé, Mamaé me preparou para eu ser pajé, disse que eu vou ser o grande curandeiro aqui da aldeia. Agora eu vou mostrar o que ele passou para mim.
Aí fumei charuto …eu peguei minha pena e limpei minha mão…não tem nada…peguei e saiu o que ele colocou na minha mão…e ficou mexendo…mexendo…e aí todos os pajés levaram susto…todos os pajés viram…todo mundo ficou com medo. E aí eu disse aos pajés :
Eu sou pajé, e é assim que eu vou arrancar a dor de vocês.
Léo : Que fantástico ! Quantos anos o sr. Tem ?
Sapaim : Não sei quantos anos eu tenho (gargalhadas…) E eu saí e depois ele mandou voltar para eu ficar mais dois anos dentro da minha oca.
Léo : Sem sair também ?
Sapaim : Sem sair ! Ele estava me preparando para eu ficar mais forte ainda. A´[i ele me mostrou todas as plantas…qualquer planta eu conheço…qualquer planta..todas.
Léo : Quais são as doenças que o sr. mais cura lá na aldeia ?
Sapaim : Eu curo…tem espírito bom…tem espírito mal…tem animal mal…Então é espírito ruim que está jogando a doença…
Léo : Esse espírito ruim tem um nome ?
Sapaim : A mesma coisa….Mamaé ! Mamaé ruim..
Léo : Ah ! Mamaé siginifa espírito..então ..ruim ou bom ?
Sapaim : É espírito..então esse Mamaé ruim joga doença no povo…e pajé cura…pajé vê…pajé conhece esse Mamaé ruim. Tem o espírito bom que não faz nada…não joga doença…Mamaé bom só ajuda.
Léo : E o Mamaé entra no corpo das pessoas…ele usa o corpo das pessoas , fala através das pessoas ou só fica perto ?
Sapaim : Não, não..ele fala
Léo : Por exemplo, ele entra no corpo do sr ?
Sapaim : Entra !
Léo : Então nessa hora não é mais o sr. Que fala e sim Mamaé ?
Sapaim : É Mamaé que fala …. Mamaé que ta vendo a dor das pessoas.
Léo : Quando o sr, cura então…Mamaé é que está dentro do sr ?
Sapaim : Isso ! Mamaé é que está dentro de mim ! Aí então hoje..eu vejo o espírito…eu converso com o espírito..ele diz o que vai acontecer amanhã ou depois…ele está explicando…então pajé espera o que vai acontecer. Hoje, hoje em dia os brancos estão levando malária, gripe, tuberculose, doenças…então pajé não tem como curar..
Léo : Porque é espírito de branco ?
Sapaim : É espírito de branco…Doença de branco.
Léo : Agora…doenças de índio o sr. Cura todas ?
Sapaim : Eu curo tudo ! Depois eu sonhei para curar as doenças que branco leva…para curar…catapora, sarampo…e então hoje cura doenças de branco também…mas tem a planta para curar sarampo….
Léo : Que planta o sr. Usa ?
Sapaim : Tem boas ervas para curar.
Léo : O sr. Sabe algumas em nossa língua de branco ?
Sapaim : Não ! Só tenho os nomes todos em minha língua.
Sapaim : Eu já mostrei essa planta para a equipe da escola Paulista de Medicina….então já mostrei essa planta.
Léo : O sr. Usa alguma planta para as pessoas sonharem mais ? Para ter uma visão espiritual ?
Sapaim : Tem sim ! Mas, só na aldeia .
Léo :* Como é o nome dela* ?
Sapaim : Só na minha língua ! O nome dela é Iguapó…
Léo : O sr. Faz chá para as pessoas tomarem ?
Sapaim : Não ! Não é chá . É só para passar no rosto, para sonhar.
Tem uma frutinha….sementinha que também uso para sonhar longe.
Léo :* Essa também não toma ?*
Sapaim : Não ! Só para passar no rosto. Aí…recebe aquela energia
Léo : E como se chama ?
Sapaim : Tacupeá ! Eu tenho um pouco.
Léo : O sr. Tem um aí ? E dá para eu sonhar um pouquinho agora com ela?
Sapaim : (gargalhada) Mas eu trouxe só um pouquinho para usar quando eu vou consultar as pessoas.
Léo: E chá? O Sr. Faz algum ?
Sapaim : Sim ! Quando a pessoa está com problema de estômago, pajé faz chá. Pessoal toma e fica bem. Então…hoje pajé trabalha bem…Muito forte… e sonha longe. Eu vejo as pessoas de longe.
Léo : O Tacupeá o sr. Toma antes de fazer o trabalho ? Ou seja, antes o sr. Passa o Tacupeá no rosto ?
Sapaim : Eu passo na minha mão. Quando consulto as pessoas eu uso o Tacupeá pelo corpo. E de noite eu passo.
Léo : Para sonhar ?
Sapaim : Para sonhar !
Léo : Para falar com os espíritos, por exemplo ?
Sapaim : Assim eu posso descobrir de onde vem a doença.
Léo : E quando o sr descobre de onde vem a doença, o que faz ?
Sapaim : Daí quando eu descubro a doença e da onde vem, o espírito vai me mostrar. Então, eu conheço toda e qualquer planta, qualquer árvore. Bom, os médicos da Associação paulista, até hoje ficam encima de mim, do pajé, eles querem que eu mostre o remédio bom. O segredo do pajé. Pajé não abre a mão para eles.
Bom ! Então eu virei pajé…aprendi através de Mamaé. Então hoje sou pajé forte.
Léo : O que significa Sapaim ?
Sapaim : Sapaim significa “índio pequeno”. Na língia da tribo “índio pequeno”, mas pajé cresceu !? (gargalhadas)
Sapaim é o apelido que Orlando Villas Boas me deu. “Índio Pequeno que não cresce, que mora num buraco de pedra.
Então…hoje não é mais Sapaim. Eu entreguei Sapaim para
o meu neto novo. Então hoje ele é que é Sapaim . Agora eu sou só…Pajé.
Léo : Qual é o seu nome verdadeiro na língua da tribo ?
Sapaim : Meu nome é Yanomaká Kumã !
Léo : E o que significa ?
Sapaim : Onça ! “Grande Onça” . Kumã é grande, Yanomaká é onça.
Léo: * A maior das onças ! É isso ?*
Sapaim : É !
Léo : Muitos brancos estão usando a medicina de índios de várias tribos, de vários países. Como o sr. vê isso ?
Sapaim : Hoje em dia, o branco não é minha área. Não é da minha terra. O branco está estudando as ervas de outros índios…outros povos…Na verdade os brancos estão estudando…pesquisando…E pra mim o que esle está estudando, pra ele vai ser muito fraco. A verdade é que minha erva, ninguém vai conseguir. Pra o branco estudar…..é muito difícil..
Léo : Então o sr faz as curas vendo que doença é….o Mamaé diz qual é a doença e também a planta que vai curar. É assim que o sr. cura ?
Sapaim : É !
Léo :* Por exemplo, o sr. está em São Paulo…..deve ter trazido várias ervas da aldeia?*
Sapaim : Eu não trouxe várias ervas não. Eu trago as que quero trazer. Agora o resto fica guardado.
Léo : Quando sr faz uma sessão…..ela demora quanto tempo ?
Sapaim : Eu consulto pessoa…ela fica deitada…mais 1 hora. Eu tenho que sentir…eu tenho que ver tudo o que pessoas estão sentindo. Aonde a pessoa sente dor…
Léo : Então…não precisa falar nada ? O sr. vai sentindo ?
Sapaim : Eu vou só olhando ! Aí…vou descobrir onde tem dor. Então dali, o pajé arranca a dor das pessoas…com a mão…as duas mãos. E sai na minha mão. Eu mostro…aqui (mostrou as mãos). Eque eu faço…fecho a mão…depois sopro….fuuuuu….E vai embora .
Dr. Wilson Gonzaga : Quando ele diagnostica, ele pega ador. Ele passa a mão e a dor se materializa como uma massa cinzenta meio gosmenta. E todo mundo vê ! Ele faz um gesto, sopra e massa desaparece. Ele tirou do local onde estava doendo.
Léo : Na seqüência ele dá uma erva para a pessoa ?
Dr. Wilson Gonzaga : Hoje ele atendeu o dia inteiro. Depois ele dorme e descobre a erva de cada um, e no dia seguinte ele passa.
Léo : Então ele irá receber as mesmas pessoas amanhã ?
Sapaim : O trabalho continua no sonho.
Léo : Então o sr ainda irá sonhar, e recber a erva que cada um vai ter que tomar ?
Sapaim : Isso ! Exatamente !
Léo : Qual foi a pessoa mais famosa que o sr atendeu ?
Sapaim : Bom…eu já atendi a Ministra da Noruega. Ano passado eu viajei para a Noruega. Então pajé foi lá na casa dela. Pajé consultou…pajé mostrou…e ela sentiu bem. Ela não sentiu mais nada. Ela todo mundo me filmou…eu consultando ela.
Agora já a muitos anos, e primeiro…que mostri meu trabalho….foi Augusto Ruschi…que pegou veneno de sapo.
Naquela época pajé saiu pela primeira vez na cidade….pajé ficava sempre na aldeia. Então, na época do governo Sarney…na época dele…então todo o Brasil se preocupou muito com ele. Tinha ido fazer exame. Não sei quantos anos…o médicos não descobriram o que era esse veneno e a Funai mandou rádio pro pajé, mas a gente não quis sair.
A gente estava trabalhando na aldeia…. por duas vezes a Funai mandou rádio. E como pajé não queria…a Funai mandou avião pra buscar pajé. E pajé entrou todo pintado…e pajé sujou avião…porque pajé veio pintado (gargalhadas). E Raoni, tava lá na Funai em Brasilia, e o presidente da Funai em Brasília perguntou se Raoni sabia curar veneno de sapo. Ele disse: Não ! Não sei curar ! Eu não sou pajé ! Aí ele me mostrou, Raoni me chamava de irmão. Ele disse: Eu tenho meu irmão. Ele é grande pajé e curandeiro.
Então a Funai mandou avião pra buscar pajé. Pajé foi na Funai…e pajé foi conversar com o presidente da Funai….e ele me perguntou se eu sabia curar o veneno. E eu disse : Eu sei ! Eu sei curar !
Então ele arrumou uma passagem…pajé foi para o Rio…primeira vez que pajé saiu. Ai eu consultei o Ruschi…que tava mal. Peguei ele na garganta e no pescoço….e saiu o veneno. O veneno branco do sapo…e mostrei. E Raoni….lá que ele virou pajé. E disse: Eu vou curar também.
Três dias eu fiquei consultando ele. Depois de três dias acabou aquele veneno. Ele ficou muito contente…saiu na televisão…no jornal. Ele já morreu. Ele viveu três anos depois do veneno do sapo . Depois ele pegou outra doença. Não sei se coração? Não sei ! Foi a primeira vez que sai da aldeia.
Então hoje…todos os brancos não esquecem do pajé. Porque eu já mostrei meu trabalho….já mostrei o veneno. Então…hoje em dia…o branco precisa muito do pajé.
Gisele Bündchen foi lá…procurou pajé na aldeia.
Léo : Com o Leonardo Di Caprio ?
Sapaim : Também ! A Xuxa….. Gisele Bündchen, a mãe dela..o namorado (Leonardo)
Léo : A Gisele é bonita…não é pajé?
Sapaim : Não sei ! (gargalhadas). Só que ela não passou pela Funai de Brasília. Ela foi direto, sem autorização. Derrepente…o avião dela pousou na aldeia…a gente nem conhecia ela. E ela disse:
– Eu sou Gisele Bündchen, e este é Leonardo, meu namorado (risos).
Aí ela disse:
– Eu vim procurar pajé….para o pajé me consultar. Ela dormiu na casa do cacique e meu sobrinho, Aritana e aprendeu lá, a fazer bijou, raspar mandioca, e dançou junto com as mulheres e pintaram ela, e pintaram também o namorado dela (Leonardo).
Só que o povo pintou ele (L.Di Caprio) com pintura de mulher !
Léo : Ele quem quis ?
Sapaim : Não ! Nós que quisemos ! (gargalhadas).
Aí eu vi e pensei : Pôxa ! Pintura de mulher ele está usando ? (gargalhadas). Foi assim ! Mas ela gostou muito ! Então é assim..meu trabalho é assim.
Pajé já viajou muito ! Pajé já foi até o Japão, Nova York, Washington, Europa, Marrocos…..Já viajei muito ! Aí depois que o pajé viajou…pajé parou um pouco na aldeia….cuidando de meu povo.
Léo : O sr. já atendeu vários brancos ! Qual é a maior reclamação deles?
Sapaim : O que eu estou mais consultando…é pessoa que manda energia ruim. A gente também tem isso ! É olho grande, inveja, preocupação, nervoso. Então as pessoas mandam más energias para as outras, como eu sou pajé….eu faço a limpeza. Eu tiro !
Então…a pessoa não tem como viver bem, preocupada, não consegue trabalhar bem, porque ele está usando a energia da pessoa que mandou. Isso é o que eu estou vendo!
Léo : O que mais acontece é isso ?
Sapaim : Isso ! Por isso vou tirando…vou limpando….para a pessoa ficar bem. Se você ficar assim muito carregado, pesado, triste, preocupado, nervoso…..você está sentindo a energia da pessoa que mandou, e sua energia fica presa, amarrada. Voc~e não tem como soltar essa energia. É assim que pajé faz !
Léo :* Além de Mamaé, quais são os espíritos que protegem a aldeia.*
Sapaim : Tem vários espíritos.
Léo : Mas qual é o principal ?
Sapaim : Na verdade a gente chama só Mamaé mesmo. Mamaé só…mais nada!
Dr. Wilson Gonzaga : O sr contou uma história sobre Jesus, que o sr. sonhava…e sonhava…e no sonho sonhava….. Pode contar para nós de novo ?
Nísia: Eu perguntei para ele, viu Léo, se ele acreditava em Jesus Cristo…aí ele me contou a história.
Sapaim : Sim é ! O sonho de Pajé é assim : Hoje o pajé vai dormir…vai sonhar… aqui embaixo. (Ele gesticulava mostrando as várias etapas do sonho, como degraus) Lá pajé dorme no sonho (ou seja ele sonha que está sonhando…) …. pajé acorda num outro lugar…pajé olha lá….pajé dorme lá também….pajé sonha….já num outro mundo….E aqui (gesticulava na idéia de degraus) não é mais alto…..o que eu já vi lá…o povo que eu vi….é o povo que mora mais alto. Onde as pessoas que vivem….o povo já não pisa mais na terra….pessoas ficam como pendurados (flutuando). Então o povo lá….as roupas deles são todas brancas, tudo é branco…só não tem cabelo…tudo careca…então tudo anda pendurado.
Então…de lá…vem pensamentos bons…energia boa. Tudo de lá vem aqui para baixo. E…para nós.
Só que o povo joga energia ruim na gente, então…o que veio…atrapalha energia boa. Isto é o que eu estou sonhando.
“Maocini” – Nosso Criador. Eu sonho sempre com ele. De lá vem energia boa. Apessoa que é boa recebe…a pessoa má não recebe. Pessoa boa só recebe energia boa de lá.
Aí pajé veio descendo…acordando….acordando…Quando pajé chegou aqui embaixo…….
Dr. Wilson Gonzaga : O sonho…do sonho….do sonho…
Léo : São os degraus do sonho ?
Sapaim : É assim que pajé está sonhando !
Léo : E a mulher lá na aldeia ? Ela não cura também ? Existe mulher pajé ?
Sapaim : Mulher pajé não cura nada. Mulher pajé só quer namorar ! (gargalhadas)
Léo : Então…ela é mais esperta, não é ? (gargalhadas)
Léo : A mulher não cura na aldeia…então ?
Sapaim : A mulher não !
Nísia : E qual a diferença da mulher da cidade e da mulher da aldeia ?
Sapaim : A índia é muito diferente do que a branca…muito diferente…energia diferente….energia da branca diferente. Porque ? Sempre eu digo como a gente ainda vive…pajé fica nu…índia fica nua. Então energia funciona igual, não tem diferença…Agora energia da branca é diferente. Pra nós como vocês ficam vivendo sempre de roupa….fecha energia. É isto que estou vendo ! Fecha a energia e…num fica assim igual…energia de mulher e energia do homem.
Bia Labate : Muitos brancos te procuram para fazer aprendizado. Daí eu queria saber se eles aprendem e porque você os ensina?
Sapaim : O que eu estou ensinando ? Bom, tem um branco que quer que eu ensine a ser pajé. Só que para ele não é fácil…é muito difícil o branco aprender a ser pajé, aprender a planta. Difícil ! Muito difícil. Ele não tem como sonhar a planta…ele não tem como conversar com a planta…como enxergar, como conhecer a planta. É muito difícil para o branco. Só se o branco…que sabe mexer a planta…pajé conhece…ele estudou a olhar a planta…a pessoa não está mais a própria energia dele…ele está com a energia da planta misturada…a energia da planta vai tirando toda a energia dele e a enrgia da planta passa para ele. Pois eu sei que já tem branco que conhece planta, porque ele está com a energia da planta. Eu hoje não uso mais a minha própria energia…ela acabou…porque eu to com energia do Mamaé. Toda a energia que eu tenho é só Mamaé. Agora minha energia mesmo acabou porque Mamaé limpou, Mamaé trocou.
Bia Labate : Mas tem branco que faz curso com você ? A gente conheceu uma pessoa…O Léo organizou um encontro de xamanismo que o Wilson participou, onde tinha uma pessoa que recebeu um nome seu, uma que chama Yatamalo, e outras pessoas que conheci que também aprenderam com você.
Léo : A Marise Dantas da Paraiba
Sapaim : Sim ! Eu conheço ela. Como ela viu meu trabalho, tirando as dores das pessoas, então ela me viu…então ela disse : Pajé ! Você pode me ensinar ? Eu quero aprender seu trabalho ? É que eu trabalho com pessoas. Como você está tirando a dor ? Você pode me ensinar ? Eu quero ficar pajé.
Eu disse : Olha ! Você é branca ! Muito difícil. Eu posso dar ela pra você…E dei. Não sei se hoje ela está vendo as pessoas…não sei…eu não encontrei ela sabe ? Não sei se ela está vendo a energia das pessoas ! Mas eu dei para ela o nome Yatamalo, o nome das mulheres pajés do Xingu.
Léo :*Qual é mensagem que o sr. daria para nós brancos ?*
Eu posso dar para as pessoas minha energia e meu espírito. Eu posso mandar para o pessoal viver bem, bem tranqüilo…eu mando minha enrgia…eu mando minha reza. Tem reza para mandar para as pessoas…então pessoas recebem meu espírito…minha energia…minha reza…então pessoa já sabe que é para as pessoas viverem bem.
Então as pessoas precisam cuidar de rezar, da energia e do espírito…mais nada !
Ikatu ( Obrigado)

Fonte:http://www.xamanismo.com.br/paje-sapaim-xingu/

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