VÔOS DA ALMA - SOBRE O XAMANISMO

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Rituais xamânicos são uma das mais antigas práticas espirituais da humanidade. E estão na moda, seja na indústria do misticismo new age ou nas ciências que estudam os mistérios do cérebro humano

Texto José Augusto Lemos
A sessão xamânica é realizada à noite. A comunidade se reúne no interior de uma tenda. O centro, onde há fogo, fica reservado para o xamã e seu assistente. O tambor é o instrumento principal: o xamã toca, dança e canta invocando espíritos auxiliares (em geral, em forma de animais). Ao atingir o transe, seu corpo cai inerte no chão e seu assistente assume o tambor…
…Dentro do transe, a alma do xamã se desprende e viaja ao centro do Universo, até a Árvore do Mundo – eixo que faz a conexão entre as 3 zonas cósmicas: o mundo terrestre, o céu e submundo. No submundo, ele pode resgatar a alma de uma pessoa doente, restituindo, assim, sua saúde. No céu, pode negociar informações sobre o futuro e melhores condições de clima e de caça.
Em 1672, o padre Avvakum Petrovitch, da Igreja Onodoxa Russa, publicou seu livro de memórias Vida, um dos marcos inaugurais da literatura de seu país. Um dos trechos mais impactantes da obra era a descrição de seu encontro, durante um período de exílio na Sibéria, com uma figura completamente exótica aos olhos de um russo civilizado: um saman.
O bruxo local havia sido contratado para ler a sorte de uma expedição militar e Petrovitch assistiu a todo o ritual, que começou com o sacrifício de um carneiro. “Virando o animal de lado, ele torceu seu pescoço e arrancou sua cabeça. Aí, começou a pular e dançar, invocando os demônios; por fim, soltando gritos lancinantes, se jogou no chão, com a boca espumando. Pressionado pelos demônios, perguntou a eles: ·A expedição terá sucesso?·. Eles responderam: ·Vocês retomarão com grande vitória e grande riqueza.·”
O relato fez sucesso entre os russos e, a partir daí, descrever rituais xamânicos tornou-se mania entre os que viajavam pela Sibéria. Alguns retratavam esses homens como trapaceiros capazes de hipnotizar sua platéia, que fingiam se esfaquear enquanto faziam esguichar sangue de uma bexiga animal escondida sob a roupa, e usavam de ventriloquismo para simular conversas com espíritos. Outros os classificavam como psicóticos desvairados, perdidos em um mundo paralelo, criado por suas próprias alucinações e superstições típicas de povos “atrasados”.
Não demorou para que o assunto começasse a intrigar os estudiosos, que se perguntavam se aqueles feiticeiros esquisitos eram charlatães ou doentes mentais. Os caras eram, porém, altamente estimados por sua gente, não só por tratar os doentes (sua principal ocupação) e prever o futuro, como por negociar com a própria natureza condições melhores de clima, caça e fertilidade – tudo isso numa das regiões mais geladas e insalubres do planeta.
Os xamãs se defendiam dizendo que todos seus dons de cura e vidência vinham dos espíritos – uma multidão deles, em diversas configurações. Alguns eram seus ancestrais; outros, divindades celestiais e entidades subterrâneas. E ainda havia toda espécie de espíritos da natureza: os animais, as plantas, o fogo, a terra, o vento… Da mesma maneira como as doenças eram provocadas por maus espíritos (ao raptarem as almas das pessoas ou possuírem seus corpos), os xamãs aprendiam a combatê-las com espíritos aliados, que os ensinavam as artes do ofício em sua iniciação e, depois, os guiavam e protegiam nas viagens ao além.
Nessa crença de que há espíritos em toda parte – não apenas neste mundo, como em outros normalmente invisíveis – e de que eles interferem no destino humano, está a base da religião xamânica, se é que pode ser chamada de religião (outra polêmica viva até hoje). Muitos preferem ver o fenômeno como uma forma de misticismo, por estar centrado em um indivíduo e não em uma instituição organizada. Porém, não falta quem enxergue no xamanismo a raiz pré-histórica de todas as religiões – caso do antropólogo americano Weston La Barre, autor de um célebre ensaio classificando como xamã o patriarca hebreu Moisés. “Todas as divindades clássicas das ·grandes religiões· ainda trazem muitas marcas de suas origens xamânicas – como Zeus, o cósmico criador de chuva da Grécia antiga, acompanhado de sua águia, o mítico Pássaro do Trovão”, afirma ele.
Origens
Se o xamanismo é, de fato, a fonte comum de todos os cultos e práticas espirituais, isso explicaria uma de suas características mais fascinantes: a de que, em toda parte do planeta, são encontradas práticas e crenças idênticas ou semelhantes às dos xamãs siberianos.
A cerimônia de iniciação da machi, a xamã dos índios chilenos mapuche, por exemplo, reproduz um ritual-chave de seus pares asiáticos. Ambos escalam, de tambor na mão, um tronco simbolizando o eixo cósmico que liga o céu, a terra e o submundo, a chamada Árvore da Vida. E essa mesma árvore mítica está presente da Austrália à Índia até as antigas lendas germânicas do deus Odin.
Outro elemento que identifica o xamã, seja de onde for, é sua relação com os bichos. A maioria dos espíritos que o orientam e protegem tem forma de animal. Roupas e adereços xamânicos são feitos de peles de animais ou penas de pássaros, para incorporar dons – como o poder de voar. Acredita-se, inclusive, que o xamã pode se transformar em animal – onça na Amazônia, tigre na Malásia, lobo ou urso na Sibéria e em todo o Ártico, águia ou corvo na Ásia e na América, entre outras tantas metaformoses.
Estudiosos concordam que essa simbiose homem-animal era uma característica dominante da cultura de nômades caçadores, como nossos antepassados que saíram da África para povoar o resto do planeta, há 100 mil anos. E ela está bem documentada em pinturas pré-históricas em cavernas espalhadas pelo mundo – há imagens de seres metade homem, metade bicho que datam de 17 mil anos atrás. É impossível saber com certeza o que fazia o homem pré-histórico naquelas galerias úmidas e escuras, mas tudo indica que elas eram centros cerimoniais de ritos xamânicos – fossem para ajudar na caça, buscar estados de êxtase visionário, iniciar jovens na vida adulta ou tudo isso e mais um pouco. As explicações mais aceitas para essas imagens falavam que as pinturas eram a forma encontrada pelos xamãs para adquirir poder sobre as criaturas retratadas ou negociar com os espíritos delas uma aliança para garantir a alimentação de seu povo. Recentemente, porém, uma teoria apoiada em pesquisas neurológicas mudou a interpretação dessas figuras. O arqueólogo David Lewis-Williams, da Universidade Witwatersrand, em Joahnnesburgo, África do Sul, acredita que tais imagens compõem uma espécie de mapa dos estágios atravessados por uma mente em transe (veja o quadro da pág. 65).
O xamanismo teria dominado a vida espiritual da humanidade até a sociedade de classes e a especialização profissional. Com a criação de uma casta de sacerdotes e da religião organizada, não havia mais lugar para um autônomo polivalente como o xamã. Clãs de nômades caçadores continuaram, porém, existindo em partes do planeta em que a dita civilização demorou a chegar – caso da Sibéria e das Américas, onde o xamanismo foi preservado e identificado como um sistema coerente, em contraste com os fragmentos e vestígios que dele são encontrados em outras regiões. “Na migração do norte da Ásia para o Novo Mundo, essa essência viajou com as populações”, diz a americana Esther Jean Langdon, organizadora da coletânea Xamanismo no Brasil, lançada em 1996, rara publicação dedicada às pajelanças de nosso país. “Em cada lugar, ela se desenvolveu de uma forma, criando diferenças não só nos ritos como nas próprias visões de mundo: alguns, por exemplo, se preocupam em dar ordem ao caos, outros acreditam em uma convivência com ele.”
O que é xamanismo?
Com tantas diferenças entre os xamanismos, fica mesmo difícil chegar a uma definição que satisfaça a todos. A mais famosa vem de um historiador das religiões, o romeno Mircea Eliade, autor de Xamanismo e as Técnicas Arcaicas de Êxtase, livro da década de 1950 e que teve tremenda influência na popularização do assunto fora das paredes acadêmicas. A principal característica xamânica, segundo ele, é o estado de transe – com detalhes que o distinguem de outros arrebatamentos místicos, como o de um médium espírita, por exemplo. Trata-se, antes de mais nada, de um transe controlado, no qual o xamã entra e sai à vontade – e, mesmo dentro dele, se mantém senhor de si, em vez de ser possuído pelos espíritos com que se relaciona. Se não for traçada essa fronteira, alerta Eliade, o conceito acaba abrangendo todos os ritos e cultos de possessão africanos, tornando-se largo demais e perdendo o sentido.
O problema com essa linha divisória é que nem todo mundo acredita que ela exista. E do lado de quem discorda tem gente do porte do etnólogo húngaro Vilmos Dioszégi, que passou a vida viajando pela Sibéria e pela Mongólia, além de ter sido o único estudioso autorizado pelo governo soviético a fuçar seus arquivos. Dioszégi garante que o saman é igualmente tomado pelo transe mediúnico, servindo de porta-voz aos espíritos. O típico transe xamânico, porém, consiste no “Vôo da alma”: soltar a consciência do corpo e viajar além do mundo material, até os planos espirituais invisíveis onde o xamã busca a cura e as informações de que sua comunidade necessita.
Para chegar a esse estado, o xamã utiliza as chamadas “técnicas arcaicas de êxtase”. A mais universal delas é a música (sessões exaustivas de canto e dança ao som de ritmos repetitivos do tambor ou chocalho), mas outros métodos incluem combinações de jejum, isolamento, privação sensorial (como a reclusão em uma caverna escura) e o mais polêmico de todos: o uso de plantas e fungos psicoativos (veja o quadro da pág.66).
Uso de psicoativos
Em seu dossiê enciclopédico, reunindo práticas xamânicas de mais de 250 etnias e paralelos em mitologias e religiões do mundo todo, Eliade julga o uso de psicotrópicos como uma forma tardia – “mecânica”, “corrupta” e “decadente” – de xamanismo, à qual recorrem os incapazes de obter um êxtase “puro” e “genuíno”. Estudiosos mais jovens, que admiravam o trabalho de Eliade, mas questionavam esse ponto chegaram à conclusão de que essa visão não passava de preconceito moralista do velho professor. A pelo menos um deles, o antropólogo americano Peter Furst, Eliade teria dito, no fim da vida, que mudara de opinião.
A desconfiança em relação aos psicoativos nunca deixou de existir, mas saiu de moda com a revolução cultural da 2º metade do século 20, quando as novas gerações trocaram o racionalismo ocidental pelo espiritualismo oriental, pela música de raiz africana e pelas “drogas psicodélicas”. Não podia haver ambiente mais favorável a uma reavaliação das técnicas de êxtase xamânicas – chegando ao caso extremo de uma dissertação de mestrado, tipo de publicação raramente lida fora das universidades, se tornar best seller mundial, como aconteceu em 1968 com A Erva do Diabo, o primeiro livro do peruano Carlos Castañeda, então estudante de antropologia na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
Narrando seu aprendizado com o índio yaqui Don Juan, Castañeda apresenta o uso das “plantas de poder” como apenas um elemento de um sistema rigoroso de auto-disciplina – bem diferente do uso recreativo que os hippies faziam das mesmas substâncias. Ao mesmo tempo que se consagrava guru da contracultura, ele perdia toda credibilidade no meio cadêmico, onde passou a ser visto como autor de ficção e chamado de “a maior fraude da antropologia”. Processo semelhante aconteceu com o antropólogo americano Michael Harner, iniciado no uso ritual de alucinógenos por pajés amazônicos, na mesma época. Enxugando as tradições xamânicas a um método básico, sem psicoativos, Harner publicou em 1980 o manual prático O Caminho do Xamã e criou uma fundação internacional que hoje ensina o “vôo da alma” a quem se interessar: de donas de casa e executivos a siberianos e esquimós interessados em reaprender a arte curadora de seus ancestrais (após 6 décadas de regime comunista, que prendia ou matava todo xamã que encontrasse pela frente, o resgate da tradição xamânica se tornou a principal manifestação cultural – religiosa de estados asiáticos da Federação Russa, como Tuva e Buriátia, ao se libertarem da extinta União Soviética).
Hoje, na maioria das vezes que se ouve falar em neo-xamanismo, a referência é Harner e seus discípulos da Fundação para Estudos Xamânicos. Eles são representantes de uma inovação surpreendente: a pessoa a ser curada aprende a entrar em transe sozinha, só com o toque do tambor e técnicas de visualização. “Essa é a principal alteração introduzida pelos neo-xamas”, afirma o húngaro Mihály Hoppál, diretor do Instituto do Folclore Europeu, em Budapeste. O pajé de hoje ensina qualquer um a se tornar xamã de si mesmo, acabando com a distinção entre curador e paciente. Além disso, 99% dos neo-xamãs dispensam o que seus vizinhos poderiam chamar de “drogas” – e talvez esteja aí a razão para que sejam melhor aceitos pelo homem branco ocidental. Mas, segundo Harner, mesmo no xamanismo de raiz, o uso de psicoativos acontece em apenas 10% dos rituais hoje. “Para muitas tradições, são os sonhos a mais importante forma de aprendizado”, diz Esther Langdon.
O porquê do sucesso
Usando psicoativos ou não, o importante – e o que mais surpreende a comunidade científica – é que os xamãs e seus rituais realmente promovem curas. O desafio tem sido entender como. A velha resposta de que seria por sugestão ou hipnose satisfaz cada vez menos pesquisadores. A física quântica e seus paradigmas (que borraram as fronteiras entre matéria e energia, espaço e tempo, corpo e psique) foram adotados pelo misticismo new age como explicação para todo tipo de fenômeno paranormal. Alguns físicos enxergam justamente na cura xamânica uma prova da teoria quântica segundo a qual o mundo funciona como um holograma (aquela imagem tridimensional onde cada célula precisa conter as informações do conjunto completo). Da mesma forma, cada partícula de matéria teria de trazer dentro de si todo o Universo. Para completar, a mente humana teria a capacidade de interferir nessa partícula submicroscópica quando liberta de seu arcabouço racional-analítico, como ocorre nos estados de transe. “A idéia do corpo físico como apenas um nível a mais no campo energético humano, semelhante a um holograma formado pela aura, pode explicar os poderes curativos da mente e o controle que ela exerce sobre o corpo em geral”, diz o físico Michael Talbot, autor O Universo Holográfico.
Já é consenso entre os especialistas que o uso das substâncias psicoativas tem índices de sucesso no combate à dependência de cigarro, bebidas e outras drogas comparáveis aos métodos convencionais modernos. “Não temos ainda uma explicação para isso, mas identificamos um número considerável de pessoas que abandona uma dependência com o uso de plantas psicoativas”, diz psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Programa de Orientação e Assistência ao Dependente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) onde, há 8 anos, pesquisa-se o potencial terapêutico da ayahuasca em parceria com a Universidade da Califórnia. Outro dado sem explicação aparente é o fato de essas substâncias não terem efeito em todos os usuários.
“O que tanto separa a visão de mundo xamânica da nossa e, por isso, apresenta o maior desafio para sua incorporação na metodologia de pesquisa contemporânea, é a crença de que os vegetais alucinógenos são sacramentos de origem divina”, diz Charles Grob, diretor da Divisão de Psiquiatria Infantil e Adolescente da UCLA, responsável pela ponte com a Unifesp na pesquisa da ayahuasca. “É essa utilização espiritualizada e reverencial dos psicoativos que distingue as práticas xamânicas do nosso contexto profanado e patológico de abuso de drogas.” Grob é também um dos autores do único estudo certificadamente científico publicado sobre os benefícios psíquicos dessa planta, atestando curas de alcoolismo. Evitando fazer alarde, pesquisas semelhantes com outras substâncias prosseguem em diversas partes do planeta – com destaque para a raiz africana iboga, responsável pelo maior índice de recuperação de heroinômanos até hoje.
Existem ainda outras hipóteses para explicar como funciona o transe curativo. Há psicólogos que acreditam que ele dissolve temporariamente o ego – que pode se reintegrar de maneira mais madura e equilibrada. Outros, como o célebre antropólogo francês Claude Lévi- Strauss, comparam o xamã ao psicanalista: eles curam pela linguagem, capaz de dar ordem à confusão mental do paciente. A neurologia, ciência especializada no cérebro e no sistema nervoso, lembra, por sua vez, que ainda conhecemos muito pouco sobre a consciência humana e que só no futuro será possível encontrar explicações para esse tipo de mudança. O maior dos mistérios xamânicos, portanto, continua longe de ser decifrado.
A polêmica do nome
Muitas polêmicas cercam o nome “xamanismo”. Alguns antropólogos, por exemplo, querem expulsar o termo do vocabulário acadêmico, dizendo que ele virou um balaio-de-gatos que não significa mais nada e é usado para se referir a todo tipo de curandeiro, feiticeiro e/ou sacerdote tribal.
Os mais radicais acreditam que “xamanismo” não passa de um conceito construído pelos próprios colegas de cátedra. “Trata-se de uma fabricação ocidental moderna, feita de práticas disparatadas, folclorização abrangente e resíduos de mitos, misturados à política de departamentos acadêmicos”, diz Michael Taussig, da Universidade Columbia. Seu livro Xamanismo, Colonialismo e o Homem Selvagem é um clássico da antropologia contemporânea, por documentar pajés amazônicos não só como curadores mágicos e líderes espirituais, mas também como ardilosos negociadores políticos, igualmente aterrorizados pelo caos e pela incerteza que enfrentam em seu trabalho – contrariando o ideal romântico do xamã “puro” e “iluminado” difundido pela cultura pop da metade do século 20.
A guerra tem mais de 100 anos. Em 1903, um dos pais da antropologia, o francês Arnold van Gennep, já protestava contra o uso da palavra siberiana saman para descrever crenças e costumes de “povos semicivilizados do mundo inteiro”. Mas a verdade é que ninguém conseguiu deter a popularização do termo. “Xamanismo é hoje uma palavra usada a toda hora, em toda parte”, diz o estudioso de religiões Graham Harvey, especialista em “paganismo moderno” da Open University, na Inglaterra.
“Os pedantes talvez insistam que ela só pode significar o que significava para seus usuários originais, os tungues siberianos e seus vizinhos. Enquanto isso, tem gente de todo tipo quese considera xamã ou que diz fazer coisas xamânicas.”
As funções do xamã
CURADOR
Principal função do xamã. Ele é responsável por cuidar dos doentes e negociar a cura com os espíritos.
VIDENTE
Alerta a comunidade de possíveis ameaças e busca evitá-las, geralmente por meio de sacrifícios. Além disso, localiza homens e animais perdidos, identifica autores de furtos, prevê mudanças no clima e aponta o lugar ideal para caçar.
PSICOPOMBO
Ele é o “condutor das almas” e escolta o espírito do morto ao outro mundo.
MÚSICO, CANTOR E POETA
O xamã usa sua arte para entrar em transe, curar, e também para preservar – em versos e narrativas – as tradições de seu povo.
MEDIADOR
É ele quem faz a ponte entre o homem, a natureza e os mundos invisíveis.
Roteiro de viagem
O arqueólogo David Lewis-Williams estudou imagens pré-históricas e as comparou a padrões levantados em pesquisas sobre alucinações e a visões provocadas pela bebida ayahuasca. A conclusão a que ele chegou é que os traços geométricos e figuras encontrados com frequência nessas pinturas representam o roteiro do transe xamânico.
FASE 1
Visões de padronagens luminosas, formadas por pontos, linhas paralelas, grades, ondas e zinguezague caracterizam a entrada em transe.
FASE 2
Elas se transformam em figuras derivadas se sua geometria – ondas e ziguezague, por exemplo, podem virar cobras.
FASE 3
No estágio que antecede o transe profundo, surge – representado por mandalas ou espirais – um túnel. No final dele, há uma luz, visão igualmente relatada por pessoas à beira da morte.
FASE 4
Ao sair do outro lado do túnel, a pessoa encontra seres com forma de animal. Ela mesma se transforma em animal e sente que pode voar.
Plantas visionárias
AMANITA MUSCARIA
O fungo usado na Sibéria é considerado o alucinógeno mais antigo da humanidade.
PSICOCYBE, STROPHARIA E PANAEOLUS
Os astecas e os maias deixaram várias obras de arte dedicadas a esse cogumelo. Na década de 1960, Beatle, Stone e hippies do mundo todo experimentaram.
TABACO
Não costuma ser visto como alucinógeno – mas os xamãs amazônicos têm suas manhas, como ficar em jejum ingerindo apenas o sumo das folhas. Pajés também assopram a fumaça de charutos sobre o paciente doente.
DATURA
A “erva do diabo” é só uma espécie desse gênero, o mais temido psicoativo vegetal. Em certas tribos, a planta é ingerida uma única vez na vida, num rito de passagem.
PEIOTE
No século 19, tornou-se importante na cura para o alcoolismo – levando à criação da Native American Church (Igreja Nativa Americana), hoje com cerca de 250 mil adeptos, os únicos com autorização legal para usá-lo.
AYAHUASCA
Mais de 70 povos da Amazônia usam, desde tempos imemoriais, o cipó Banisteriopis caapi em sofisticada combinação química com outras plantas. O resultado são chás como o santo-daime ou o vegetal, da União do Vegetal.
Para saber mais
Xamanismo e as Técnicas Arcaicas de Êxtase – Mircea Eliade, Martins Fontes, 1964
Shamans Through Time – Jeremy Narby e Francis Huxley, EUA, 2001
Shamans/Neo-Shamans – Robert J. Wallis, EUA, 2003
http://www.shamanism.org – Site da Fundação para os Estudos Xamânicos


Fonte:http://super.abril.com.br/ciencia/voos-da-alma/

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